quarta-feira, maio 30, 2007

Vampiros Psíquicos

Nem todos os vampiros chupam Sangue

Satanismo representa responsabilidade para o responsável, em vez de se referir a vampiros psíquicos.

Muitas pessoas que caminham sobre a terra praticam a arte requintada de
fazer os outros se sentirem responsáveis e mesmo em divida para com eles, sem causa. O satanismo observa esses sanguessugas numa verdade clara.

Vampiros psíquicos são indivíduos que drenam dos outros sua energia vital. Este tipo de pessoa pode ser encontrado em todas as avenidas da sociedade. Eles não desempenham nenhum propósito útil em nossas vidas e não tem nenhum desígnio de amor ou amigos verdadeiros. Ate agora nos sentimos responsáveis pelos vampiros psíquicos sem saber o porque.

Se você pensa que pode ser a vitima de uma determinada pessoa, ha algumas simples regras que o ajudara a tomar uma decisão. Ha uma pessoa que você freqüentemente recebe ou visita, mesmo que realmente não queira, porque você sabe que se sentira culpado se não o fizer? Ou você se descobre freqüentemente fazendo favores para alguém que nunca vem adiante e pede, mas sugere?

Freqüentemente o vampiro psíquico usara a psicologia reversa, dizendo: "Oh, eu não posso pedir a você por isto" - e você, em retorno, insiste em faze-lo. O vampiro psíquico nunca exige nada de você. Isto pareceria muito presunçoso. Eles simplesmente deixam os seus desejos serem conhecidos de maneiras sutis que impedira que eles sejam considerados pestes. Eles "nunca pensariam em impor" e são sempre capazes de aceitar a sua sorte, sem a menor importância - externamente!

Seus pecados não são de ação mas de omissão. E o que eles "não" dizem, não o que eles querem dizer, que faz você sentir muito responsável por eles. Eles também são muito astuciosos em abrir suas pretensões com você, porque eles sabem que você se ressentiria disto, e teria uma razão tangível e legitima para condena-los.

Uma grande parcela dessas pessoas tem "atributos" especiais que fazem sua dependência sobre você mais possível e muito mais efetiva. Muitos vampiros psíquicos são inválidos (ou pretendem ser) ou são "mentalmente e emocionalmente perturbados". Outros podem simular ignorância ou incompetência e então, sem compaixão, ou mais freqüentemente, com irritação, você fará coisas para eles.

A maneira tradicional de banir um demônio ou elemental e reconhece-lo pelo que ele e, e exorciza-lo. O reconhecimento destes demônios modernos e seus métodos e o único antídoto para a sua ação devastadora sobre você.

Muitas pessoas aceitam passivamente estes indivíduos viciosos de fisionomia de valor somente porque suas manobras insidiosas nunca foram apontadas. Eles somente aceitam estas "pobres almas" como sendo menos afortunadas do que eles, e sentem que precisam ajuda-los do modo que puderem.

E um senso equivocado de responsabilidade (ou infundado senso de culpa) que nutre bem os "altruísmo" em cima da festa destes parasitas! O vampiro psíquico consegue existir porque escolhe engenhosamente pessoas conscientes, responsáveis, como vitimas - pessoas com grande dedicação pelas suas "obrigações morais".

Em alguns casos nos somos vampirizados por grupos de pessoas, assim como por indivíduos. Cada organização construída pelo capital, seja ela uma fundação de caridade, conselho comunitário, religioso ou associação fraterna etc., cuidadosamente seleciona a pessoa que e habilidosa em fazer os outros se sentirem culpados pelo seu presidente ou coordenador.

O trabalho do presidente e nos intimidar para abrir primeiro nossos corações e depois nossas carteiras, para o recipiente da "boa vontade" - nunca mencionando que, em muitos casos, seu tempo não e dado desinteressadamente, mas que eles estão ganhando um gordo salário pelos suas "obras nobres". Eles são mestres em manipular a simpatia e consideração de gente responsável.

Freqüentemente vemos pequenas crianças que são enviadas adiante pelos autohonrados Fagins para, sem complicação, extrair donativos agradavelmente. Há, e claro, pessoas que não se sentem felizes a menos que dêem, mas muitos de nos não se encaixa nesta categoria. Infortunadamente, nos estamos freqüentemente nos pondo em fazer coisas que genuinamente não sentimos que deveria ser exigidas de nos.

Uma pessoa consciente acha que e muito difícil decidir entre caridade voluntária e imposta. Ela espera fazer o que e certo e justo, e acaba perplexo tentando decidir exatamente quem ela deveria ajudar e que grau de ajuda deveria corretamente ser
esperada dela.

Cada pessoa precisa decidir por si mesma qual e a sua obrigação para com seus respectivos amigos, família e comunidade. Antes de dar o seu tempo e dinheiro para aqueles de fora, sua família imediata e seu fechado circulo de amigos, ele precisa decidir do que pode dispor, sem privar aqueles que são mais chegados a ele. Quando tomar essas coisas em consideração ele precisa estar certo de incluir a si mesmo entre aqueles que significam muito para si. Ele precisa avaliar cuidadosamente a validade do pedido e a personalidade e motivos de cada pessoa que lhe pede alguma coisa.

E extremamente difícil para uma pessoa aprender a dizer "não" quando em toda a sua vida ele tem dito "sim". Mas a menos que ele espere ter vantagem constantemente, deve aprender a dizer "não" quando as circunstancias justifiquem faze-lo. Se você permiti-los, os vampiros psíquicos gradualmente se infiltrarão no seu dia-a-dia ate que você perca a sua privacidade - e seu sentimento constante a respeito deles esvaziara você de toda a ambição.

Um vampiro psíquico sempre selecionara a pessoa que e relativamente capaz e satisfeita com a vida - uma pessoa que e bem casada, contente com o seu trabalho, e geralmente bem ajustada com o mundo a sua volta - para se alimentar dela. O fato genuíno de que o vampiro psíquico escolhe, para vitimar, uma pessoa feliz mostra que ele esta carente de todas as coisas que sua vitima tem; ele fará qualquer coisa para trazer encrenca e desarmonia entre sua vitima e as pessoas que lhe são caras.

Por esta razão, seja precavido de qualquer um que pareça não ter nenhum amigo real e nenhum interesse aparente pela vida (exceto você). Ele naturalmente contara a você que e muito seletivo em sua escolha de amizades, ou que não gosta de fazer amigos facilmente por causa dos altos padrões que ele fixa para as suas companhias. (Para adquirir e manter amigos, alguém precisa ser muito condescendente com ele - algo de que o vampiro psíquico e incapaz.) Mas ele se apressara a acrescentar que você preenche todos os requisitos e é verdadeiramente uma excelente exceção entre os homens - você e um dos muito poucos merecedores de sua amizade.

Com receio de que você confunda amor desesperado (que e uma coisa muito egoísta) com vampirismo psíquico, a vasta diferença entre as duas precisam ser esclarecidas. O único caminho para saber se você esta sendo vampirizado e comparar o que você da a pessoa em relação ao que ela lhe da em troca.

Você precisa, algumas vezes, se aborrecer com as obrigações impostas pelo seu amor, por um amigo intimo, ou mesmo um empregador. Mas antes que você os rotule como vampiros psíquicos, precisa perguntar a si mesmo:

"O que estou obtendo em troca?" Se seu esposo ou amor insiste que você o chame freqüentemente, mas você também exige a consideração para você pelo seu tempo gasto, precisa entender que esta e uma dada e apropriada situação. Ou se e habito de um amigo chama-lo para ajudar em momentos inoportunos, mas você igualmente depende dele para lhe dar prioridade a suas necessidades imediatas, precisa considerar que e uma troca justa.

Se seu empregador pede para você fazer um pouco mais do que lhe e habitualmente esperado em sua condição particular, mas ignora eventuais atrasos ou lhe da tempo quando freqüentemente necessita dele, você certamente não tem razão para reclamar e não necessita sentir que ele esta tirando vantagem de você.

Se você este, contudo, sendo vampirizado se você e incessantemente chamado ou esperado a conceder favores para alguém que, quando você necessita de um favor, sempre acontece de ter outras "obrigações urgentes".

Muitos vampiros psíquicos lhe darão coisas materiais pelo expresso propósito de fazer você sentir que esta em divida com eles, amarrando-o a eles. A diferença entre o seu presente, e o deles, e que o seu pagamento em retorno não precisa vir em forma material. Eles esperam que você se sinta obrigado a eles, e deveria ficar muito desapontados e mesmo ressentidos se você tentasse retribui-los com objetos materiais. Em essência, você deve "vender sua alma" para eles, e eles constantemente
lembrarão a você de sua obrigação para com eles, mas não lembrando você.

Ser puramente satânico, a única maneira de negociar com o vampiro psíquico e o "jogo do silencio" e comportar-se como se eles fossem genuinamente altruístas e realmente não esperarem nada em retorno. Ensine-os a lição que eles graciosamente dão a você, agradecendo-os sonoramente por toda a atenção que lhe deu, e saindo fora! Deste modo você saíra como vencedor.

O que pode eles dizerem? E quando você esta inevitavelmente esperando reparar a sua "generosidade" (esta é a pior parte!), você diz "não" - mas, de novo, graciosamente! Quando eles sentem que você esta saindo de suas presas duas coisas acontecerão. Primeiro, eles agirão "apertando", esperando que seu velho sentimento de dever e simpatia retornarão, e quando (e se) não acontece, eles mostrarão suas cores verdadeiras e se tornarão irados e vingativos.

Uma vez que você moveu-os ate este ponto, pode jogar o papel da parte ofendida. Depois de tudo, você não fará nada errado - apenas aconteceu de você ter "obrigações urgentes" quando eles necessitavam de você, e desde que nada era esperado em troca pelos seus presentes, não deveria ter sentimentos pesados.

Geralmente, os vampiros psíquicos concebem que seus métodos foram descobertos e não pressionam o resultado. Ele não continuara a perder o seu tempo com você, mas se movera para sua próxima vitima insuspeita.

Ha momentos, contudo, quando o vampiro psíquico não libera sua presa tão facilmente, e fará tudo para atormentar você. Eles tem todo o tempo para isto porque, quando uma vez rejeitados, eles negligenciarão tudo (ou seja, o que pouco tem) para devotar seus momentos de vigília em planejar a vingança para o que eles se sentem autorizados.

Por esta razão, e melhor evitar uma relação com este tipo de pessoa em primeiro lugar. A "adulação" e dependência que você permite, em primeiro lugar, pode ser
muito lisonjeira, e os presentes materiais muito atrativos, mas você eventualmente acabara pagando por eles muitas vezes mais.

Não desperdice o seu tempo com pessoas que finalmente destruirão você, mas se concentre naqueles que apreciarão sua responsabilidade por eles, e, do mesmo modo, sentirão responsáveis por você.

E se você e um vampiro psíquico - tome cuidado! Acautele-se do satanista - ele está pronto e desejoso de enfiar com jubilo uma estaca proverbial em seu coração!

----------Repassado de uma lista de Discussão sobre
Satanismo.----------

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†Djinn Satânico†
"Melhor matar um bebê em seu berço que acalentar desejos
irrealizáveis."
"Fui expulso do Céu, por andar de preto entre os outros Anjos. Além
disso jogaram uma maldição em mim. A maldição é: Nunca poder ser feliz ao
lado de Ninguém. Por este motivo desejei me transformar em um Demônio."
- Djinn
Agios o Baphomet!

quinta-feira, maio 24, 2007

Thelema

CARTA AOS PROBACIONISTAS


Traduzido por Fra. P.V.R.A.


TEOREMAS

I. O progresso do mundo consiste na virtude do aparecimento de Cristos (Gênios).
II. São Cristos os homens ( e mulheres também ) de supra-consciência da mais elevada ordem.
III. Supra-consciência de elevada ordem é obtida por métodos conhecidos.
Conseqüentemente, empregando a quintessência de tais métodos
conhecidos causamos o progresso do mundo.

IMPRESCINDÍVEIS DE MÉTODO

I. Teologia é imaterial: pois ambos, Buda e Sto Ignatius foram Cristos.
II. Moralidade é imaterial: pois ambos, Sócrates e Mohammed foram Cristos.
III. Supra-consciência é um fenômeno natural: portanto suas condições devem ser buscadas de preferência mais nos atos que nas palavras daqueles que alcançaram isso.
Os atos essências são retiramento e concentração bem como ensinados pela Yoga e a Magia Cerimonial.

ERRO DOS MÍSTICOS

I. Sendo a verdade supra-racional, torna-se incomunicável na linguagem da razão.
II. Portanto, todos os místicos têm escrito coisas sem sentido, pois o que escreveram está um tanto distante da verdade.
III. Da mesma forma que um lago sereno produz um reflexo mais convincente do sol do que uma torrente, aquele cuja mente se encontra melhor equilibrada irá, se ele vir a ser um místico, ser muito melhor que de outros místicos.

O MÉTODO DE EQUILÍBRIO

I – As paixões, etc.

I. Sendo o ultimato da verdade desconhecido, todos os códigos de moralidade são arbitrários.
II. Por isso, o estudante não deve voltar seu interesse nas questões de ética.
III. Em razão disso, ele está livre "para realizar seu dever sob o modo de vida que bondosamente Deus o chama".

II – A razão

I. Desde que verdade é supra-racional, toda declaração racional é falsa.
II. Que o estudante então contradiga toda proposição que a ele se apresentar.
III. Sendo expelidas pela mente idéias de teor racional, há nela um local específico para a apreensão da verdade espiritual.
Deve ser levado em consideração que isso não destruirá a validade da racionalidade em seu plano adequado.

III – O senso espiritual

I. Sendo o homem de natureza finita ele se torna incapaz de apreender o infinito. Nem mesma sua comunhão com a natureza infinita (verdadeira ou falsa), altera este fato.
II. Que o estudante contradiga toda visão e recuse a apreciá-la: primeiro porque certamente existe outra visão possível de natureza precisamente contraditória àquela; segundo, porque embora sendo um deus, não deixa de ser um homem sobre um planeta insignificante.
Sendo então equilibrado lateralmente e verticalmente; pode ser que, tanto por afirmação ou negação de todas essas coisas unidas, possa ele alcançar o transe supremo.

IV – O resultado

I. O transe é definido como sendo o êxtase numa região específica do cérebro, provocado pela meditação sobre a idéia a ele correspondente.
II. Que o estudante então venha a se precaver para que naquela idéia não exista rastro de impureza. Deve ser puro, equilibrado, calmo, completo, focado em todas as maneiras de dominar a mente, da forma que deve ser.
Da mesma forma da escolha de um rei a ser coroado.
III. De forma que os decretos desse Rei irão de ser justos e sábios, da mesma maneira que ele foi justo e sábio antes de se tornar Rei.
A vida e a obra dos místicos irá refletir ( pensando vagamente) na suprema força condutora dele, o mais elevado transe a ser alcançado por ele.

YOGA E MAGIA

I. Yoga é a arte de unir a mente à uma única idéia. Existem quatro métodos:

Gnana Yoga – União pelo conhecimento
Raja Yoga – União pela vontade
Bhakta Yoga – União pela devoção
Hatha Yoga – União pela coragem
Mantra Yoga – União pela voz
Karma Yoga – União pelo serviço

Estes são unidos pelo supremo método do Silêncio.

II. Magia Cerimonial é a arte de unir a mente à uma única idéia.
Existem quatro métodos.

A Sagrada Cabala – União pelo conhecimento
A Sagrada Magia – União pela vontade
Os Atos de adoração – União pelo amor
Os Ordálios - União pela coragem
As Invocações - União pela voz
Os atos do serviço - União pelo serviço

Estes são unidos pelo supremo método do Silêncio.

III. Se esta idéia for a mais suprema e perfeita, e o estudante perder as rédeas, o resultado é a insanidade, obsessão, fanatismo, paralisia e morte ( adicione mais a tagarelice e a loucura incurável ) de acordo com a natureza da falha.
Que o estudante entenda todas essas coisas e as combine em sua Arte, unindo-as pelo Supremo método do Silêncio.

Thelema-BR: Para os Estudantes da Lei de Thelema

"Não existe Culpa, não existe Graça;
Esta é a Lei, o que quiser, faça!"
(Aleister Crowley)
http://www.astrumargentum.org.br

Visite: Collegium ad Lvx et Nox
Filosofia Oculta e Magick.
http://www.collegium.org.br

sexta-feira, maio 18, 2007

A Saga das Valentinas

Quarta-feira, 09/05/2007
A saga das valentinas

Inquisição perseguiu mulheres que possuíam a "marca da magia" em
Serranias

Há muitos séculos, nasceu na Irlanda uma linda menina chamada
Valentina, que daria início a uma linhagem de mulheres com uma
intrigante característica: o dom da magia. Na tradição celta, as
mulheres eram consideradas seres especiais, iluminados, e tinham um
papel privilegiado nos grupos social e familiar. A pequena Valentina
foi consagrada no nascimento a Brighid, filha do deus Dagda, que, na
mitologia celta, é o Grande Senhor, deus da magia e da Terra.

No ano de 1652, pouco depois do nascimento da menina, o país foi
invadido por ingleses que usurparam terras e massacraram o povo da
região. Muitos irlandeses se viram obrigados a deixar sua pátria e um
grupo veio parar no Brasil, em uma região que hoje é conhecida como
Serranias. Neste grupo estava a pequena Valentina, que acabou
transmitindo sua "marca da magia" para suas descendentes.

Reza a lenda que, no final do século XVII, um inquisidor da Coroa
Portuguesa chegou a Serranias atraído por denúncias de que a prática
de bruxaria era comum na região. Muitas mulheres foram condenadas à
fogueira sob esta acusação e a história rendeu a Serranias a fama
de "cidade das bruxas". A alcunha acabou se tornando uma boa fonte de
renda para alguns habitantes, já que agora, no final da década de
1930, a cidade recebe inúmeros turistas atraídos pela possibilidade
de levar um pouco de magia para suas vidas. Para outros, porém, a
fama da cidade tornou-se motivo de vergonha e irritação constantes.

As sobreviventes

Apesar da incredulidade de muitos, ainda existem valentinas em
Serranias. Pérola e Nina Sullivan, por exemplo, possuem o fantástico
dom herdado de suas ancestrais, mas procuram não fazer alarde sobre
isso. E como toda valentina, têm por tradição não usar a magia para
fazer o mal. Elas conhecem e, na sua maioria, respeitam a Lei do
Retorno: não se deve usar a magia para prejudicar alguém, porque o
mal sempre volta para quem o pratica.

Ponto turístico

A maior atração da cidade é a visita ao local onde teria ocorrido o
grande sacrifício das bruxas do século XVII. Ali foi construído o
Museu das Bruxas, com objetos da época, documentos que atestam a
veracidade dos fatos e algumas relíquias consideradas sagradas. Além
da aura de mistério, Serranias também atrai visitantes por ser uma
cidade pequena e muito charmosa, com arquitetura peculiar, situada
entre montanhas, rios e vales, num local de natureza exuberante. E é
neste belo cenário que a história se desenrola.

quinta-feira, maio 17, 2007

Ocultismo versus Artes Ocultas

OCULTISMO VERSUS ARTES OCULTAS

Helena Petrovna Blavatsky

“Tantas vezes ouvi dizer, mas jamais até então acreditara,
Que houvesse pessoas que, por meio de poderosos encantamentos mágicos,
Dobrassem aos seus vis propósitos as leis da Natureza.”(Milton)

Na Seção “Correspondência” deste mês, várias cartas dão testemunho da forte impressão causada em algumas mentes pelo nosso artigo do mês passado, Ocultismo Prático (1). Tais cartas servem para provar e reforçar duas conclusões lógicas.

(a) Há mais pessoas bem-educadas e de bom entendimento que acreditam na existência do Ocultismo e da Magia (os dois diferindo enormemente) do que supõe o materialista moderno; e

(b) A maioria dos que acreditam (incluindo-se muitos teósofos) não tem idéia definida da natureza do Ocultismo, e o confunde com as Artes (2) Ocultas em geral, até mesmo com a “magia negra”.

Suas concepções dos poderes que o Ocultismo confere ao homem, e dos meios necessários para consegui-los, são tão variados quanto fantasiosos. Alguns imaginam que tudo que necessitam para tornar-se um Zanoni, é um mestre na arte para indicar o caminho. Outros crêem que se tem apenas de atravessar o Canal de Suez e ir até a Índia para transformar-se num Roger Bacon ou mesmo num Conde St. Germain. Muitos adotam Margrave como seu ideal, com sua juventude sempre a se renovar, e pouco se importam com a alma como o preço a ser pago por isso. Muitos confundem “Feitiçaria”, pura e simples, com Ocultismo - “através do sumidouro da Terra, a partir das trevas do rio Estige (3), subi, fantasmas descarnados, para regiões de luz” - e desejam, com a força deste feito, ser tratados como Adeptos de plena grandeza. “A Magia Cerimonial”, de acordo com as regras irreverentemente apresentadas por Eliphas Levi, constitui um outro alter ego imaginário da filosofia dos antigos Arhats. Em suma, os prismas através dos quais o Ocultismo aparece, para aqueles inocentes da filosofia, são tão multicoloridos e variados como lhes pode tornar a fantasia humana.

Será que esses candidatos à Sabedoria e ao Poder sentir-se-iam muito indignados se lhes fosse contada a verdade pura e simples? Não é apenas útil, mas agora se tornou necessário desiludir a maioria deles, e antes que seja tarde demais. Esta verdade pode ser dita em poucas palavras: Não há, no Ocidente, entre as centenas de pessoas fervorosas que se dizem “Ocultistas”, nem mesmo meia dúzia que tenham sequer uma idéia aproximadamente correta da natureza da ciência que eles procuram dominar. Com umas poucas exceções, estão todos no caminho que leva à Feitiçaria. Que eles restabeleçam um pouco de ordem no caos que reina em suas mentes antes de protestarem contra esta afirmativa. Deixemos que primeiro aprendam a verdadeira relação entre Artes (4) Ocultas e Ocultismo, e a diferença entre ambos, e então se enfureçam se ainda se acharem com razão. Enquanto isso, deixemos que aprendam que o Ocultismo difere da Magia e das outras Artes (5) Secretas como o glorioso Sol difere de uma luz fugidia, assim como o imutável e imortal Espírito do Homem - o reflexo do TODO Absoluto, sem causa e incognoscível - difere do barro perecível - o corpo humano.

Em nosso Ocidente altamente civilizado, onde as línguas modernas têm evoluído e novas palavras têm sido cunhadas sob o influxo de novas idéias e pensamentos - como tem acontecido com todas as línguas - quanto mais estes pensamentos se tornam materializados na fria atmosfera do egoísmo ocidental e sua busca incessante pelos bens deste mundo, tanto menos se sente qualquer necessidade para a produção de novos termos que expressem aquilo que se considera implicitamente como absoluta e desacreditada “superstição”. Tais palavras poderiam apenas responder a idéias que dificilmente se suporia um homem culto pudesse abrigar em sua mente.

“Magia” é um sinônimo para prestidigitação; “Feitiçaria”, um sinônimo para ignorância crassa; e “Ocultismo”, os tristes restos mortais de perturbados filósofos medievais do Fogo, dos Jacob Boehmes e os St. Martins, expressões que se acredita mais que amplamente suficientes para cobrir todo o campo da “falcatrua”. São termos de desprezo, e geralmente usados apenas com relação à escória e aos resíduos das idades das trevas e dos períodos de eons de paganismo que os precederam. Por isso, não possuímos ter­mos na língua portuguesa (6) para definir e matizar a diferença entre tais poderes paranormais e as ciências que levam à posse deles, com a refinada precisão que é possível nas línguas orientais - preeminentemente no sânscrito. O que palavras como “milagre” e “encantamento” (palavras afinal idênticas em significado, já que ambas expressam a idéia de produzir coisas maravilhosas transgredindo as leis da Natureza [!!], como explicado pelas autoridades reconhecidas), significam àqueles que as ouvem ou as pronunciam? Um cristão acreditará piamente em milagres - não obstante “transgridam as leis da Natureza” - porque se diz terem sido produzidos por Deus através de Moisés; por outro lado, rejeitará os encantamentos produzidos pelos mágicos do Faraó ou irá atribuí-los ao demônio. É este último que nossos pios inimigos associam ao Ocultismo, enquanto seus ímpios desafetos, os infiéis, riem-se de Moisés, dos Mágicos, e dos Ocultistas, e enrubesceriam se tivessem que dedicar um pensa­mento sério a tais “superstições”. Isto porque não existe qualquer termo para mostrar a diferença; não há palavras para expressar as luzes e sombras e desenhar a linha demarcatória entre o sublime e verdadeiro, em relação ao absurdo e ridículo. Os últimos são interpretações teológicas que ensinam “a transgressão das leis da Natureza” pelo homem, por Deus, ou pelo diabo; os primeiros - os “milagres” científicos e os encantamentos de Moisés e dos Magos de acordo com as leis naturais, ambos tendo sido aprendidos em toda Sabedoria dos Santuários, que eram as “Sociedades Reais” daqueles dias - e no verdadeiro OCULTISMO. Esta última palavra certamente se presta a equívocos, traduzida como foi da palavra composta Gupta-Vidyâ, “Conhecimento Secreto”. Mas conhecimento de quê? Alguns dos termos sânscritos nos podem ajudar.

Há quatro nomes (dentre muitos outros) para designar os vários tipos de Conhecimento ou Ciência Esotéricos, mesmo nos Purânas exotéricos. Há (1) Yajña-Vidyâ (7), conhecimento dos poderes ocultos despertados na natureza pela realização de certas cerimônias e ritos religiosos. (2) Mahâvidyâ, o “grande conhecimento”, a magia dos cabalistas e da adoração Tântrica, geralmente Feitiçaria da pior espécie. (3) Guhya-Vidyâ, conhecimento dos poderes místicos residentes no Som (Éter), conseqüentemente nos Mantras (preces cantadas ou encantamentos), que dependem do ritmo e da melodia usados; em outras palavras, uma performance mágica baseada no conhecimento das Forças da Natureza e suas correlações; e (4) ÂTMA-VIDYÂ, um termo que é traduzido simplesmente como “Conhecimento da Alma”, Sabedoria verdadeira pelos orientalistas, mas que significa muitíssimo mais.

Âtma-Vidyâ é, assim, o único tipo de Ocultismo que qualquer teósofo que admirasse Luz no Caminho (8), e que fosse sábio e altruísta, deveria esforçar-se por alcançar. Tudo o mais é apenas algum ramo das “Artes (9) Ocultas”, i.e., artes baseadas no conhecimento da essência última de todas as coisas nos reinos da Natureza - tais como minerais, vegetais e animais - portanto das coisas pertencentes à esfera da natureza material, por mais que aquela essência possa ser invisível, e tenha escapado até agora à compreensão da Ciência. A Alquimia, a Astrologia, a Fisiologia Oculta, a Qui­romancia existem na Natureza, e as Ciências exatas - assim chamadas talvez porque elas sejam julgadas o inverso disso, nesta era de filosofias paradoxais - já descobriram não poucas das artes acima. Mas a clarividência, simbolizada na Índia como o “Olho de Shiva”, ou chamada “Visão Infinita” no Japão, não é hipnotismo, o filho ilegítimo do mesmerismo, e não pode ser adquirida por tais artes. Todas as outras podem ser dominadas e se pode obter resultados, sejam bons, maus, ou indiferentes; mas são de pouco valor do ponto de vista de Âtma-Vidyâ. Âtma-Vidyâ inclui todas elas e pode até mesmo usá-las eventualmente, para propósitos benéficos, mas não sem antes purificá-las de sua escória, e tomando o cuidado de destituí-las de todo elemento de motivação egoísta. Deixe-nos explicar: Qualquer homem ou mulher pode pôr-se a estudar uma ou todas das “Artes Ocultas” acima especificadas sem qualquer grande preparação prévia, e mesmo sem adotar qualquer modo de vida demasiado restritivo. Poder-se-ia até mesmo prescindir de qualquer padrão elevado de moralidade. No último caso, certamente, as probabilidades são de dez para um que o estudante iria se transformar num tipo de feiticeiro razoável, e prestes a cair abruptamente na magia negra. Mas o que pode isso importar? Os Vodus e os Dugpas comem, bebem e se divertem com as hecatombes de vítimas de suas artes infernais. E assim também os afáveis cavalheiros vivisseccionistas e os “Hipnotizadores” diplomados das Faculdades de Medicina; a única diferença entre as duas classes é que os Vodus e Dugpas são feiticeiros conscientes, e os seguidores de Charcot-Richet são feiticeiros inconscientes. Assim como ambos têm que colher os frutos de seus trabalhos e feitos na magia negra, os praticantes ocidentais não deixarão de conseguir lucros e satisfações sem receber a punição e a reputação correspondentes a tais práticas; repetimos, portanto, que o hipnotismo e a vivissecção, como praticados em tais escolas, são feitiçaria pura e simples, privados do conhecimento do qual desfrutam os Vodus e Dugpas , e que nenhum Charcot-Richet pode obter por si mesmo em cinqüenta anos de intenso trabalho e observação experimental. Deixe­mos, então, aqueles que querem intrometer-se na magia - quer eles entendam sua natureza ou não, mesmo que considerem as regras impostas aos estudantes muito difíceis e por isso ponham de lado Âtma-Vidyâ ou Ocultismo - seguirem sem esse conhecimento. Deixemos que se tornem magos de qualquer maneira, mesmo que se tornem Vodus e Dugpas pelas próximas dez encarnações.

Mas o interesse de nossos leitores estará provavelmente centrado naqueles que são inexoravelmente atraídos para o “Oculto”, embora nem façam idéia da verdadeira natureza daquilo a que aspiram, nem se tenham tornado livres das paixões, e muito menos, verdadeiramente altruístas.

Então, o que dizer a respeito destes desventurados, nos perguntarão, que desse modo são dilacerados pelo meio por forças conflitantes? Pois já foi comentado por demais para que se precise repetir, e o fato em si é obvio a qualquer observador, que uma vez que o desejo pelo Ocultismo tenha realmente despertado no coração de um homem, não lhe resta qualquer esperança de paz, nenhum lugar para descanso ou conforto em todo o mundo. Ele é impelido para os locais selvagens e desolados da vida por um incessante tormento e uma inquietude que não consegue apaziguar. O seu coração está demasiado cheio de paixão e desejo egoísta para lhe permitir passar pelo Portal de Ouro; ele não consegue encontrar descanso ou paz na vida comum. Terá ele então de cair inevitavelmente na feitiçaria e na magia negra, e através de muitas encarnações acumular para si um carma terrível? Não há outro caminho para ele?

Certamente que há, respondemos. Que ele não aspire a mais do que aquilo que se sinta capaz de realizar. Que ele não escolha carregar um fardo pesado demais para si. Sem nem mesmo exigir dele que se torne um Mahatma, um Buda ou um Grande Santo, deixe-se que estude a filosofia e a “Ciência da Alma”, e ele poderá tornar-se um dos modestos benfeitores da Humanidade, sem qualquer dos poderes “super-humanos”. Os Siddhis (ou os poderes do Arhat) são reservados unicamente para aqueles que são capazes de consagrar sua vida, sujeitar-se aos terríveis sacrifícios exigidos por um tal treinamento, e sujeitar-se a eles ao pé da letra. Que eles saibam de uma vez por todas e lembrem sempre que o verdadeiro Ocultismo ou Teosofia é a “Grande Renúncia ao eu”, incondicional e absolutamente, tanto em pensamento como em ação. É ALTRUÍSMO, e também lança aquele que o pratica totalmente para fora do cômputo das fileiras dos vivos. “Não para si, mas para o mundo, ele vive”, tão logo tenha comprometido a si mesmo com a obra. Muito é perdoado durante os primeiros anos de provação. Mas tão logo seja ele “aceito”, sua personalidade tem de desaparecer, e ele tem de se tornar uma mera força benéfica da Natureza. Depois disso, só há dois pólos opostos perante ele, duas sendas, e nenhum lugar intermediário para descanso. Ou ele ascende trabalhando com afinco, degrau por degrau, geralmente através de numerosas encarnações e sem intervalo para repouso no Devachan, à escada de ouro que leva à condição de Mahttma (a condição de Arhat ou Bodhisattva), - ou ele se permitirá escorregar escada abaixo ao primeiro passo dado em falso, e despencar até a condição de Dugpa...

Tudo isso ou é desconhecido ou totalmente deixado de lado. Na realidade, aquele que é capaz de seguir a evolução silenciosa das aspirações preliminares dos candidatos, com freqüência descobre estranhas idéias que vão mansamente tomando posse de suas mentes. Há aqueles cujas faculdades de raciocínio foram tão distorcidas por influências estranhas, que imaginam que as paixões animais podem ser de tal modo sublimadas e elevadas que sua fúria, força e fogo podem, por assim dizer, ser dirigidas para dentro; que elas podem ser armazenadas e reprimidas em seu peito, até que sua energia seja, não-expandida, mas direcionada para propósitos mais elevados e mais sagrados: isto é, até que sua força coletiva e não-expandida permita ao seu possuidor entrar no verdadeiro Santuário da Alma e lá permanecer na presença do Mestre - o EU SUPERIOR. Em nome deste propósito, eles não lutarão com suas paixões nem as matarão. Eles simplesmente, por um forte esforço de vontade, acalmarão as violentas chamas e as manterão encerradas dentro de suas próprias naturezas, permitindo ao fogo arder sob uma fina camada de cinzas. Eles se submetem jovialmente à tortura do menino espartano que preferiu permitir à raposa devorar suas entranhas a desfazer-se dela. Oh, pobres visionários cegos!

Seria o mesmo que esperar que um bando de limpadores de chaminés bêbados, exaltados e sujos por causa de seu trabalho, pudessem ser encerrados num Santuário coberto com o linho mais puro e branco, e que, em vez de com sua presença sujar e transformar o lugar num monte de retalhos imundos, eles se tornassem mestres do recinto sagrado, e que finalmente de lá saíssem tão imaculados quanto o próprio recinto. Por que não imaginar que uma dúzia de can­gambás aprisionados na atmosfera pura de um Dgon-pa (mosteiro) possam sair dali impregnados com todos os perfumes e incensos lá usados?... Estranha aberração da mente humana. Poderia isto ser possível? Investiguemos.

O “Mestre”, no Santuário de nossas Almas, é “o Eu Superior” - o espírito divino cuja consciência está baseada na Mente e apenas dela deriva (tal ocorre, de qualquer modo, durante a vida mortal do homem na qual ela se encontra cativa), e à qual convencionamos chamar de Alma Humana (sendo a “Alma Espiritual” o veículo do Espírito). Por sua vez, aquela (a alma pessoal ou humana) é, na sua forma mais elevada, um composto de aspirações espirituais, volições e amor divino; e em seu aspecto inferior, de desejos animais e de paixões terrestres que lhe são transmitidas por sua associação com o seu veículo, a sede de tudo isso. Ela desempenha o papel, portanto, de um elo e um meio entre a natureza animal do homem, a qual sua razão superior tenta subjugar, e a sua natureza espiritual divina em direção à qual ela gravita, sempre que obtiver vantagem em sua luta com o animal interior. Este último é a instintiva “Alma animal”, e é o antro daquelas paixões que, como acabamos de mostrar, são acalentadas em vez de aniquiladas, e que alguns entusiastas imprudentes mantêm encerradas em seu peito. Será que eles ainda esperam desse modo transformar a corrente imunda do esgoto animal nas águas cristalinas da vida? E onde, em que terreno neutro, podem elas ser aprisionadas de modo a não afetarem o homem? As violentas paixões do amor e da luxúria ainda estão vivas, e ainda se lhes permite permanecer no lugar de seu nascimento - aquela mesma alma animal; pois tanto as porções superior e inferior da “Alma Humana” ou Mente rejeitam semelhantes companhias, ainda que não possam evitar ser maculadas por tais vizinhos. O “Eu Superior” ou Espírito é tão incapaz de assimilar tais sentimentos como o é a água de se misturar com o óleo ou impurezas líquidas gordurosas. Assim, é apenas a mente - o único vínculo e meio entre o homem da terra e o Eu Superior - que é a única sofredora, e que está em constante perigo de ser tragada por aquelas paixões, que podem ser reavivadas a qualquer momento, e perecer no abismo da matéria. E como pode ela alguma vez se afinar com a divina harmonia do Princípio superior, quando aquela harmonia é destruída pela mera presença de tais paixões animais, dentro do Santuário em preparação? Como pode a harmonia prevalecer e vencer quando a alma está maculada e distraída pelo turbilhão das paixões e pelos desejos terrenos dos sentidos do corpo, ou mesmo pelo “homem Astral”?

Pois este “Astral” - o “duplo” sombrio (tanto no animal como no homem) - não é o companheiro do Ego divino, mas do corpo terrestre. É o vínculo entre o eu pessoal, a consciência inferior de Manas, e o Corpo, e é o veículo da vida transitória, não da vida imortal. Tal qual a sombra projetada pelo homem, ele segue seus movimentos e impulsos servil e mecanicamente, apoiando-se assim na matéria sem jamais ascender ao Espírito. Somente quando o poder das paixões estiver totalmente morto, e elas tiverem sido esmagadas e aniquiladas na retorta de uma vontade inquebrantável; quando não apenas toda luxúria e desejos da carne estiverem mortos, mas também quando o reconhecimento do eu pessoal tiver sido aniquilado, e o “Astral”, conseqüentemente, tiver sido reduzido a zero, é que pode ocorrer a União com o “Eu Superior”. Assim, quando o “Astral” refletir apenas o homem conquistado, o que ainda vive mas que não mais deseja, a personalidade egoísta, então o brilhante Augoeides, o EU divino, pode vibrar em harmonia consciente com ambos os pólos da Entidade humana - o homem de matéria purificada, e a sempre pura Alma Espiritual - e erguer-se na presença do EU SUPERIOR (10) , o Cristo dos Gnósticos místicos, congraçado, imerso, unido com ELE para sempre. (11)

Como, então, poderia ser possível conceber que um homem entrasse pela “porta estreita” do Ocultismo quando seus pensamentos, a cada dia e hora, estão presos a coisas mundanas, desejos de posse e poder, à luxúria, à ambição, e aos deveres que, embora honrosos, são ainda da terra, terrenais? Mesmo o amor pela esposa e a família - a mais pura e mais altruísta das afeições humanas - é uma barreira ao verdadeiro Ocultismo. Pois se tomarmos como exemplo o sagrado amor de uma mãe por seu filho, ou o de um marido por sua esposa, mesmo nestes sentimentos, quando analisados em profundidade, e examinados criteriosamente, ainda há egoísmo no primeiro, e um egoïsme a deux (12) no segundo exemplo.

Que mãe não sacrificaria, sem hesitar sequer um instante, centenas e milhares de vidas pela vida do seu filho do coração? E que amante ou marido digno deste nome não destruiria a felicidade de qualquer outro homem ou mulher ao seu redor para satisfazer o desejo daquela a quem ele ama? Mas isso é natural, dirão. Certamente, do ponto de vista das afeições humanas; mas não à luz do princípio daquele amor divino universal. Pois, enquanto o coração estiver cheio de pensamentos voltados para um pequeno grupo de eus, que nos são próximos e caros, que valor terá o resto da Humanidade em nossas almas? Que percentagem de amor e cuidado permanecerá para dispensar à “grande órfã” (13)? E como a “ainda pequenina voz” far-se-á ouvida numa alma totalmente ocupada por seus próprios inquilinos privilegiados? Que espaço resta ali onde possam as necessidades da Humanidade imprimir-se em bloco, ou mesmo receber uma rápida resposta? E ainda assim, aquele que poderia lucrar com a sabedoria da mente universal tem que alcançá-la através do todo da Humanidade sem distinção de raça, cor, religião ou posição social. É o altruísmo e não o egoísmo, mesmo em sua concepção mais nobre e legal, que pode levar o indivíduo a fundir o seu pequeno eu no Eu Universal. É para estas necessidades e para esta obra que o verdadeiro discípulo do verdadeiro Ocultismo tem de se devotar se quiser alcançar a teosofia, a Sabedoria e o Conhecimento Divinos.

O aspirante tem de escolher absolutamente entre a vida do mundo e a vida do Ocultismo. É inútil e vão empenhar-se em unir os dois, pois ninguém pode servir a dois mestres e satisfazer a ambos. Ninguém pode servir ao seu corpo e à Alma superior, e cumprir com suas obrigações familiares e deveres universais, sem privar um ou outro de seus direitos; pois ou ele dará ouvidos à “ainda pequenina voz” e falhará em ouvir os apelos de seus pequeninos, ou ouvirá apenas os desejos destes e permanecerá surdo à voz da Humanidade. Isso seria uma luta incessante e enlouquecedora para quase todo homem casado que estivesse procurando o verdadeiro Ocultismo prático, em vez de sua filosofia teórica. Pois ele encontrar-se-ia sempre hesitante entre a voz impessoal do divino amor pela Humanidade, e a do amor terreno, pessoal. E isso só poderia conduzi-lo a falhar em um ou outro, ou talvez em ambas as obrigações. Pior do que isto. Pois, quem quer que seja indulgente, uma vez que tenha comprometido a si mesmo com o OCULTISMO, na gratificação de luxúria e amor terrenos, sentirá quase imediatamente um resultado: será irresistivelmente arrastado do estado impessoal divino para o plano inferior da matéria. A autogratificação sensual, ou mesmo mental, envolve a perda imediata dos poderes de discernimento espiritual; a voz do MESTRE não pode mais ser distinguida daquela das paixões pessoais, ou mesmo da voz de um Dugpa; o certo do errado; a firme moralidade do mero casuísmo. O fruto do Mar Morto assume a mais gloriosa aparência mística, apenas para se tornar cinzas nos lábios e fel no coração, resultando em:

“Profundeza mais que profunda, treva mais que escura;
A insensatez pela sabedoria, a culpa pela inocência;
A angústia pelo êxtase, e pela esperança, o desespero.”

E uma vez estando enganados e tendo agido segundo seus erros, a maioria dos homens recusa-se a reconhecer os seus erros, e assim descem, afundando-se cada vez mais baixo na lama. E muito embora seja a intenção que determina primariamente se a prática é de magia branca ou negra, ainda assim os resultados, mesmo da feitiçaria involuntária e inconsciente não deixarão de produzir mau carma. Muito já se falou para mostrar que feitiçaria é qualquer tipo de influência maléfica aplicada em outras pessoas, fazendo com que sofram ou façam outras pessoas sofrerem, por conseqüência. O carma é uma pedra pesada lançada sobre as plácidas águas da vida; e tem de produzir círculos cada vez mais amplos, que se expandem mais e mais, quase ad infinitum. Tais causas, uma vez produzidas, terão de gerar efeitos, e estes evidenciam-se nas justas leis de Retribuição.

Muito disso poderia ser evitado se as pessoas apenas se abstivessem de partir para práticas cuja natureza ou importância elas não compreendem. Não se espera que alguém carregue um fardo além de suas forças e capacidades. Existem “magos de nascença”; Místicos e Ocultistas de nascimento, por direito de herança direta de uma série de encarnações e eons de sofrimentos e fracassos. Estes são “à prova de paixões”, por assim dizer. Nenhum fogo de origem terrena pode inflamar quaisquer de seus sentidos ou desejos, nenhuma voz humana pode encontrar resposta em suas almas, exceto o grande clamor da Humanidade. Apenas estes podem ter certeza do sucesso. Mas somente podem ser encontrados em lugares distantes e ermos, e eles passam pelas estreitas portas do Ocultismo porque não carregam qualquer bagagem de sentimentos humanos transitórios consigo. Livraram-se do sentimento da personalidade inferior, paralisaram desse modo o animal “astral ”, e assim a porta de ouro, conquanto estreita, se abre ante eles. Tal não ocorre com aqueles que ainda precisam carregar por várias encarnações os fardos dos pecados cometidos em vidas prévias, e mesmo em suas vidas atuais. Para esses, a não ser que prossigam com grande cuidado, a porta de ouro da Sabedoria pode ser transformada na porta larga, “o espaçoso caminho que conduz à perdição” (14), e por isso “muitos são os que entram por ele”. Esta é a Porta das Artes Ocultas, praticadas por motivos egoístas e sem contar com a moderadora e benéfica influência de ÂTMA-VIDYÂ! . Estamos no período de Kali Yuga, e sua influência fatal é mil vezes mais poderosa no Ocidente do que no Oriente; daí as presas fáceis dos Poderes da Idade das Trevas neste conflito cíclico, e as muitas ilusões com as quais o mundo está agora labutando. Uma destas, é a relativa facilidade com que os homens fantasiam poder alcançar o “Portal” e atravessar o umbral do Ocultismo sem qualquer grande sacrifício. É o sonho da maioria dos teósofos, sonho inspirado pelo desejo de poder e pelo egoísmo pessoal, e não são tais sentimentos que poderão conduzi-los à meta desejada. Pois, como bem enunciado por aquele que se crê ter sacrificado a si mesmo pela Humanidade - “estreita é a porta e apertado é o caminho que conduz à vida eterna”, e portanto “poucos são os que o encontram” (15). Tão apertado na realidade, que à simples menção de algumas das dificuldades preliminares, os apavorados candidatos ocidentais viram as costas e recuam tremendo...

Que parem por aqui e não façam mais tentativas em sua grande fraqueza. Pois, se enquanto viram as costas à porta estreita eles são arrastados por seu desejo pelo Oculto, um passo que seja na direção da Porta espaçosa e mais convidativa daquele mistério dourado que brilha na luz da ilusão, pior para eles! Só podem ser levados aos domínios inferiores do estado de Dugpa, e certamente logo encontrar-se-ão naquela Via Fatale do Inferno, por sobre cujos portais Dante gravou essas palavras:

“Per me si va nella città dolente
Per me si va nell’ eterno dolore
Per me si va tra la perduta gente...” (16)





NOTAS

(1) Diz a Nota Introdutória do livro Ocultismo Prático (pag. 91): “H. P. Blavatsky (1831-1981), precursora do Ocultismo Moderno e uma das fundadoras da Sociedade Teosófica (S. T.), foi também considerada fundadora da Nova Era (vide o livro Helena P. Blavatsky; A Vida e a Influência Extraordinária da Fundadora do Movimento Teosófico Moderno, de Sylvia Cranston, Brasília, Ed. Teosófica, 1997. p.558), publicou o artigo Ocultismo Prático (que ali ela define como ‘Ciência Oculta’) na revista Lúcifer (literalmente: ‘O Portador da Luz’) de abril de 1888, cuja repercussão foi tal que necessitou outro artigo - Ocultismo Versus Artes Ocultas - publicado no mês seguinte, na citada revista, para oferecer maiores explanações sobre o tema. (...)” Voltar.

(2) Sciences, no original em inglês. (N. Ed. brasileira). Voltar.

(3) Rio da Mitologia Grega que separava o mundo dos vivos e dos mortos. (N. Ed. brasileira). Voltar.

(4) Sciences, no original em inglês. (N. ed. brasileira). Voltar.

(5) Idem. Voltar.

(6) English tongue, no original em inglês. (N. ed. brasileira). Voltar.

(7) “O Yajaña”, dizem os Brahmans, “existe desde a eternidade, pois procede do Ser Supremo... no qual subjaz latente desde o ‘não-princípio’. É a chave para o TRAIVIDYÂ, a ciência três vezes sagrada contida no Rig Veda, que ensina os Yagas ou mistérios sacrificiais. ‘O Yajña’ existe como algo invisível o tempo todo; é como o poder latente da eletricidade, que para ser liberado num dínamo, necessita apenas da operação de um aparato adequado. Diz-se que se estende desde o Ahavaniya ou fogo sacrificial até os céus, formando uma ponte ou escada por meio da qual o oficiante do sacrifício pode se comunicar com o mundo dos deuses e espíritos, e até mesmo ascender, enquanto vivo, até suas moradas” - Aitareya Brahmana, de Martin Haug. Este Yajña é novamente uma forma de Âkâsa; é a palavra que o invoca, pronunciada pelo Sacerdote Iniciado, é a Palavra Perdida impulsionada pelo PODER DA VONTADE” - Ísis Sem Véu, Vol. I,. Intr. Veja Aitareya Brahamana, de Haug. Voltar.

(8) Vide COLLINS, Mabel. Luz no Caminho. Brasília, Ed. Teosófica, 1999. (N. ed. bras.). Voltar.

(9) Sciences, no original em inglês. (N. ed. brasileira). Voltar.

(10) Master Self, no original em inglês, podendo também significar o Mestre Interno. (N. ed. bras.). Voltar.

(11) Aqueles que se sentissem inclinados a ver três EGOS em um homem mostrar-se-iam incapazes de perceber o sentido metafísico. O homem é uma trindade composta de Corpo, Alma e Espírito; mas o homem, apesar de tudo é uno, e certamente não é o seu corpo. Este último é apenas a propriedade, a vestimenta transitória do homem. Os três “EGOS” são o HOMEM em seus três aspectos nos planos ou estados astral, intelectual (ou psíquico), e Espiritual. Voltar.

(12) Em francês: egoísmo a dois. (N. ed. bras.). Voltar.

(13) A autora está referindo-se à “Humanidade”. (N. ed. bras.). Voltar.

(14) Mateus, 7:13.Voltar.

(15) Mateus, 7:14. Voltar.

(16) ALIGHIERE, Dante. A Divina Comédia. Canto 3: “Por mim se entra no reino das dores; por mim se chega ao padecer eterno; por mim se vai à condenada gente”. 1999 (N. ed. bras.). Voltar.

Tradução de Edvaldo de Souza Batista (membro da S. T. pela Loja Koot Hoomi, de Salvador-BA); revisão técnica de Ricardo Lindemann (membro da S. T. pela Loja Dharma, de Porto Alegre-RS).

Loja Fênix: http://pagina.de/lojafenix

quarta-feira, maio 16, 2007

Sobre Satã - Parte II

(continuação...)

OS PAPÉIS SOCIAIS DE SATÃ

Nossa breve jornada pela história mostra que Satã é um conceito social útil. A seguir, identificamos alguns dos papéis sociais que ele teve:

DE DENTRO VERSUS DE FORA

Possivelmente, o papel social mais central que Satã teve é o de distinguir entre aqueles que pertencem a um grupo específico e aqueles que não pertencem.
As distinções podem ser úteis. Como cada um de nós é capaz de fazer distinções, sabemos a diferença entre MEU lado da estrada e SEU lado, MINHA conta de banco e a SUA. Porque distinguimos, nós entendemos e apreciamos as diferenças tais quais "liberais" e "conservadores", "capitalistas" e "socialistas", etc. Se você é pagão, pode ser assim por causa das distinções que traçou entre Paganismo e outras religiões. Cada um de nós toma decisões todo o tempo com base em distinções.

O problema vem quando as distinções tornam-se rivalidade, ou seguem um princípio do "nós versus eles'. Nesta visão de mundo, NÓS estamos aqui e ELES estão lá fora... e nós estamos contra eles. É bem pequeno o passo dessa posição para demonizar aqueles que diferem de nós.

Os pagãos apóiam o princípio de que a demonização é uma forma inaceitável de se relacionar a outros. Ter diferenças é bom. Discordar de outros é normal. Traçar distinções que são únicas para você é muito bom. Mas não há necessidade de transformar os outros em inimigos. Como um todo, o Paganismo aceita a diversidade. A riqueza que resulta dos seres humanos se expressarem totalmente - tanto em suas semelhanças quanto nas diferenças - é algo belo para os pagãos. É um tesouro humano.

A demonização dos outros não tem lugar na visão de mundo pagã e do tipo de sociedade que os pagãos desejam construir.

CONTROLAR POR MEIO DO MEDO

Qual a melhor forma de conseguir controlar as pessoas do que deixá-las com medo? Medo do "boogeyman", medo de serem condenadas, medo de fazer perguntas, medo de si mesmas... Como vimos do monge do deserto Santo Antônio, Satã não é apenas o "boogeyman" em algum lugar "lá fora"; ele é seu próprio EU. O boogeyman é você! Seus pensamentos, sentimentos e desejos são forças demoníacas levando-o à condenação.
A partir dessa perspectiva, o mundo é tão extremamente perigoso que mesmo seu próprio EU o trai como um agente de Satã. Onde você pode recorrer para ficar seguro?

As vozes - tanto da autoridade civil quanto religiosa - têm uma resposta para você: confiar apenas nelas! A idéia de alguem abandonar o seu poder pessoal é completamente inaceitável para os pagãos. O paganismo, então, se opõe ao conceito de que você não pode confiar em si mesmo, e se opõe às tentativas de controle por meio do medo.

UM PONTO DE CONGREGAÇÃO

Quando um grupo sucumbe ao medo e demoniza os "de fora", Satã geralmente se torna um ponto de congregação. Quando as pessoas sentem-se ameaçadas, elas fecham-se em círculo e unem-se mais proximamente como uma comunidade. A maioria dos pagãos, entretanto, não se sente atraída por esse tipo de construção de comunidade. Uma comunidade construída em torno de medos, ameaças e demonização de outros não é saudável, respeitável nem mesmo sustentável. Manter uma posição de prontidão para a guerra é exaustivo. Os pagãos usariam, em vez disso, suas energias para ganhar a atenção de outras crenças e culturas, e promover o diálogo e a cooperação entre os povos do mundo.


OS PAPÉIS MITOLÓGICOS DE SATÃ

Além das funções sociais, Satã possui diversos papéis em sua mitologia. Entender esses papéis vai ajudar a identificar qualidades e características "satânicas" e reconhecê-las em outras mitologias e mesmo na cultura. Satã representa certos comportamentos e qualidades experienciadas ao longo da história humana, independentemente do sistema de crenças.

SATÃ COMO O PRINCÍPIO DA OPOSIÇÃO E OBSTÁCULO

Este é o primeiro papel arquetípico que nós atribuímos a Satã, porque este é um dos primeiros caminhos que ele encontrou na literatura hebraica.

Em vez de mau, o princípio de oposição pode ser visto como divinamente inspirado e apoiado. Olhar para a oposição de uma perspectiva energética mostra que ela é, na verdade, uma necessidade da vida. Sem forças opostas, a Terra não giraria em torno de seu eixo ou seguiria uma órbita, espécies não se reproduziriam, plantas não germinariam, aviões não voariam e nenhum de nós seria capaz de andar. Sem forças muito bem-equilibradas em oposição, a vida e o crescimento seriam impossíveis. Satã, então, é representado como uma figura arquetípica dessas forças. Uma vez que a vida, por si só, está sujeira a oposição e resistência, você pode escolher visualizar Satã e essas energias como lições e oportunidades que, no final, criam um ambiente no qual todos nós podemos crescer.

SATÃ COMO UM QUESTIONADOR DA AUTORIDADE

Este pode ser bem o papel mais evidente e controverso. Ele é, porém, uma extensão do primeiro. Neste caso, entretanto, o objeto da oposição acaba sendo a figura da autoridade. Dependendo de sua visão de autoridade, individualismo e escolha, este papel de Satã pode deixá-lo mais ou menos desconfortável.

Exemplos de Satã nesse papel podem ser encontrados na história do Jardim do Éden (Gn. 3, 1-24) e em diversos encontros com Jesus ao longo do Novo Testamento. Lembre-se que o Novo Testamento foi escrito por autores que, na maior parte, viam os eventos na vida de Jesus como uma batalha cósmica entre as forças do bem e do mal. Para ser um oponente à altura, Satã precisava ser contrariador e desafiante.

De uma perspectiva arquetípica, o padrão de um oponente mais fraco questionando, desafiando e provocando uma figura de autoridade mais poderosa é algo familiar. Muitos de vocês experienciaram essa energia arquetípica durante os anos de adolescência. Alguns de vocês viram-na e admiraram-na nas marchas lideradas por Martin Luther King protestando contra a discriminação racial, ou ouviram sobre ela na vida de Gandhi e suas lutas contra o governo britânico. As escolas e igrejas incentivam o questionamento e o desafio à autoridade quando ditado pela consciência.
Como uma sociedade, nós temos sentimentos mistos sobre o arquétipo satânico do questionamento da autoridade. Por um lado, o condenamos e temos medo dele; por outro, admiramos aqueles que têm coragem de sustentar seus princípios, quaisquer que sejam a pressão ou as conseqüências.

SATÃ COMO TRAPACEIRO

Um trapaceiro é uma divindade que ensina por meio de truques, surpresas e lições inesperadas. Muitas mitologias possuem divindades trapaceiras, tais como Hermes/Mercúrio, Discórdia, Loki, Eris e o índio americano Coiote. Quando você interage com um trapaceiro, você pensa que está indo para uma direção, mas para sua surpresa e desgosto, descobre-se em outro lugar. Freqüentemente, você acaba melhor devido a isso, ou pelo menos mais sábio, até porque experiências de trapaça não são necessariamente desagradáveis.

Nos vemos Satã cumprindo seu papel de trapaceiro no Jardim do Éden que, na forma de serpente, ele convence Adão e Eva a comer o fruto proibido. Para seu espanto, essa ação lança-os fora de seu estado quase-animal e coloca em seus ombros o fardo de tomar decisões e escolher entre certo e errado.

Satã também aparece como trapaceiro no Livro de Jó, quando leva Jó por uma série de experiências horríveis. Essas experiências se tornam um meio de crescimento para Jó e uma oportunidade de falar com Javé sobre o significado da vida, do sofrimento e da espiritualidade. As experiências de Jó certamente não são as que ele escolheria para si mesmo, mas ele chega ao outro lado como um homem completamente diferente do que era sem elas.

SATÃ COMO TENTADOR

Muito relacionado ao papel de trapaceiro, é o papel de Satã como tentador. Na história de Jó, por exemplo, Satã não apenas o leva para certas experiências transformadoras, mas tenta Jó ao desespero, a desistir de sua fé, a ser destruído pelo que está acontecendo com ele. Como Jó resiste a essas tentações, ele avança espiritualmente. O tentador, então, ajuda-nos a esclarecer o que é importante para nós. A tentação serve como um ponto de avaliação.

É esse o papel que Satã cumpre na história de Jesus no deserto. O evangelho conta que, antes de Jesus começar seu ministério, ele foi para o deserto para jejuar e orar. Não há dúvida de que esse era um tempo de preparação e purificação para Jesus, e um tempo para pensar bastante sobre escolhas que viriam a seguir. Satã vem até Jesus no deserto e o tenta três vezes. Na primeira vez, Satã encoraja Jesus a transformar pedra em pão para, assim, satisfazer suas necessidades físicas; na segunda, ele oferece a Jesus o poder sobre o mundo se ele abandonasse sua fé em Javé; na terceira, Satã tenta Jesus a testar seu poder espiritual jogando-se de uma grande altura e fazendo os anjos pegá-lo.

Por meio dessas tentações, Jesus teve que se perguntar: "Quão importante é meu ministério para mim agora? Ele é mais importante que o poder? Ele é mais importante que a satisfação física? Ele é mais importante que a glória?" Cada tentação foi uma forma de ele avaliar seus objetivos e definir suas prioridades. Depois dessa experiência no deserto, ele sabia o que era importante para ele.

A tentação tem essa mesma função para cada um de nós. Se você quer ser um pianista famoso, por exemplo, terá que decidir se pagar suas aulas e praticar todos os dias são sua prioridade. Se se pega comprando uma televisão com o dinheiro de suas aulas ou visitando amigos quando deveria estar praticando, então precisa repensar seu objetivo. As tentações podem ser mais fortes do que seu desejo. Isso não é algo ruim de descobrir. É melhor descobrir claramente que seus valores e prioridades estão em algum lugar que não onde você pensava que eles estavam.

À medida que você avança em sua vida e busca aqueles interesses, relacionamentos e projetos de vida que acendem sua paixão, Satã virá até você e perguntará: "Aquela coisa lá é mais importante que seu objetivo?" Você terá que decidir como responder. Satã como tentador representa esse processo de avaliação. Seus testes e provocações o levam a um nível de poder e clareza que de outra forma você não atingiria.

SATÃ COMO HERÓI SOFREDOR

Geralmente não pensamos em Satã como herói na história do Jardim do Éden. Os heróis são personagens que desempenham tarefas ou atos extraordinários, geralmente para o bem de outros, e que correm riscos e trazem mudanças que afetam as vidas e destinos de um ou mais personagens. Como o mitologista Joseph Campbell coloca, a jornada do herói consiste em uma separação, iniciação e retorno. Heróis começam suas tarefas deixando seu ambiente normal - a separação - e viajam para o local da tarefa ou conflito, que pode ser outro país, o mundo inferior ou um reino sobrenatural. Uma vez lá, os heróis são iniciados em seus papéis, ou seja, eles se engajam em suas tarefas e realizam seus atos - o que Campbell chama de "a penetração em alguma fonte de poder". Uma conseqüência ou mudança resulta das ações do herói, o que pode ter efeito tanto benéficos quanto prejudiciais sobre outros. A saga termina quando o herói retorna de suas tarefas, tanto para seu estado anterior ou para alguma nova condição gerada por sua conduta heróica.

Enquanto os heróis são freqüentemente recompensados por suas realizações, vez ou outra um mito termina com a punição de um herói. Nós chamamos tal personagem de um HERÓI SOFREDOR. Quem ou o que pune o herói? Geralmente, os poderes reguladores da mitologia. Por vezes, a tarefa do herói envolve estar face a face com a autoridade e, para vencer aquele tipo de poder, o herói deve "lograr" a autoridade "tirando delas o seu tesouro". Se o herói vence, ele torna-se o "portador da mudança" e liberta do controle das figuras de autoridade as "energias vitais que vão alimentar o Universo".

Na história do Jardim do Éden, a humanidade existe na terra em um estado de inocência quase animal. Satã tem consciência de uma qualidade divina que mudaria a condição da humanidade. Ele dá esse presente divino à humanidade por meio da cooperação ativa de Adão e Eva. Como Javé diz sobre seu dom: "Veja! O homem tornou-se como um de nós, conhecendo o que é bom e o que é mau". Portanto, o recebimento desse presente marca uma elevação repentina no desenvolvimento da raça humana. Como diz Campbell, pode-se dizer que mediante essa esperteza como um trapaceiro, Satã enganou Javé retirando-lhe seu tesouro de conhecimento divino, tornou-se o portador de seu tesouro para a humanidade e libertou uma energia nova e vital para o Universo.

Satã é, então, punido por suas ações. Javé amaldiçoa Satã, bane-o da companhia de outros animais e o condena, em sua forma de serpente, a rastejar sobre sua barriga para sempre. Como o Prometeus grego, Satã desafiou a divindade mais poderosa a fim de trazer uma dádiva à humanidade e foi punido por isso. De uma perspectiva arquetípica, nós podemos dizer que Prometeus e Satã representam o padrão daqueles que beneficiam a humanidade a um grande custo para si mesmos. Por essa razão, nós identificamos ambas as divindades como "heróis sofredores".

SATÃ COMO INCORPORAÇÃO DO MAL

Esse é um desenvolvimento posterior e resultado da utilização de Satã como um meio de demonização. Satã tem sido utilizado como um recipiente arquetípico no qual são jogadas todas as coisas que as pessoas temem, desprezam e reprimem. Em vez de olhar para essas coisas mais profundamente, as pessoas as rotulam de más e satânicas e deixam o rótulo pensar por elas. Uma vez que uma pessoa ou atividade é identificada com esse rótulo, ela é temida, evitada e perseguida. Aqueles que utilizam o rótulo "satânico" tendem a se tornarem bastante impressionáveis em relação às coisas que foram rotuladas. O pensamento calmo, racional entra em colapso diante do terror e histeria.

Qualquer coisa que possa ser rotulada como satânica e má satisfaz os propósitos daqueles que rotulam. Nós temos visto o rótulo associado a políticos, figuras públicas, denominações religiosas, movimentos espirituais, conveniências modernas, livros, filmes, tecnologia, brinquedos e personagens de televisão.

A demonização do que você não gosta ou não entende não é nada nova, mas ela não o ajuda a tornar-se mais maduro cultural e espiritualmente, em especial em um mundo crescentemente diverso e global. Para a maioria, os pagãos tentam evitar utilizar rótulos emocionais e, em vez disso, avaliar uma idéia por seus méritos. Os pagãos também tentam evitar transferir a culpa de si mesmo como um meio de evitar a responsabilidade por suas ações. Descarregar seu mau comportamento em Satã - "o demônio me fez fazer isso!" - não funciona no paganismo.

Satã é um personagem muito mais rico e complexo do que freqüentemente se supõe. Isso se dá, provavelmente, porque a sociedade tornou-se tão temerosa por ele como o boogeyman cósmico que muitos de nós não conseguimos estudá-lo objetivamente, mesmo que o façamos para outras personagens mais malignas de panteões diferentes.

E quanto a Satã?

E QUANTO A SATÃ?
Joyce & River Higginbotham

Cedo ou tarde alguém que você conhece encherá seus ouvidos sobre como os pagãos adoram a Satã. Não que eles estejam lhe dizendo algo novo. Você já ouviu isso antes.
Uma vez que a associação de pagãos e bruxas com o Satanismo é profundamente enraizada em nossa cultura, você não vai ser capaz de evitar tocar no assunto de Satã à medida que crescer espiritualmente. Se escolher tornar-se um pagão, em algum momento você terá que reconciliar quem você é com o que os outros dizem que você é. Isso significa que precisará encontrar um novo ponto de vantagem a partir do qual visualizará a sociedade e a si mesmo em relação a isso, para formar mais claramente suas idéias sobre bom e mau, identificar sua compreensão do que o faz ter medo e compreender o que essa sociedade teme sobre si mesma. Isso significa que você vai ter que se adaptar a Satã.

Devemos nos perguntar sobre: Que funções sociais e religiosas Satã possui? Qual é o papel de Satã na mitologia? Quem são os satanistas? Um satanista pode ser pagão?

COMO OS PAGÃOS VÊEM SATÃ?

Esta é uma questão que não é facilmente respondida, uma vez que cada pagão tem sua própria opinião sobre o assunto. A maioria dos pagãos vai concordar que, seja o que for Satã, ele é pelo menos uma divindade do panteão judaico-cristão-muçulmano. E por isso mesmo, visto que os pagãos preferem não manter uma conexão com esse panteão, a maioria dos pagãos não acredita em Satã ou lhe oferece qualquer energia ou homenagem. Uma vez que os pagãos não acreditam em Satã, eles não o adoram. Como os pagãos não necessariamente descrevem seu relacionamento com a Divindade como uma relação de adoração, então a idéia de adorar Satã é um conceito estranho em qualquer caso.

Os pagãos acreditam que Satã existe ou não? Novamente, o ponto de vista do pagão vai refletir sua visão de Divindade. Assim como é utilizado por muitos pagãos, o termo "divindade" pode referir-se ao ser espiritual, força ou poder. Por isso, os pagãos geralmente consideram satã uma divindade. Se um pagão acredita que as divindades são seres antropomórficos, então ele ou ela verá Satã como um ser antropomórfico. Se acredita que as Divindades são arquétipos, então ele ou ela verá Satã como um padrão psicológico ou energético. Se acredita que Divindades são correntes de poder, então ele ou ela provavelmente verá Satã como uma ou mais correntes de energia específicas. Se vê a Divindade como uma forma-pensamento, então ele ou ela provavelmente tomará a posição de que, mesmo se Satã não existisse antes, agora ele existe por causa de toda a energia que milhões de mentes têm-no alimentado por séculos.
Vamos ver mais profundamente Satã como uma Divindade e, em particular, como ele foi associado aos pagãos.

PAGÃOS, BRUXAS E MÁS REPUTAÇÕES

Os pagãos e bruxas são freqüentemente intitulados "adoradores do demônio", apesar do fato de que Satã ou o demônio é um conceito juceu-cristão-muçulmano. Como essa rotulação errônea acontece? Uma rápida viagem pela história vai fornecer respostas.
Nossa história começa com os antigos hebreus. Como um povo, os hebreus esforçaram-se para criar e manter a identidade social e religiosa em um ambiente hostil durante um período no qual eles foram envolvidos em repetidas guerras. Os hebreus acreditavam que eram um povo escolhido por sua Divindade - denominada JAVÉ. Antes de Moisés conduzir os israelitas para fora do Egito, ele diz ao Faraó que as pragas estão chegando, "então você deve saber que o Senhor faz uma distinção entre egípcio e Israel" (Ex. 11, 7). Da perspectiva de Moisés, Israel é favorecido por Javé, e aqueles que estão fora de Israel (os egípcios) não são. Nós podemos caracterizar essa perspectiva como uma visão de mundo de "pessoas de dentro e pessoas de fora" ou "nós e eles".

Essa visão de mundo desenvolveu-se como um tema proeminente ao longo dos escritos hebraicos, que nós conhecemos como "Antigo Testamento". Os séculos VI e VII a.C. levam mais longe o tema. Os profetas subitamente substituem descrições dos inimigos de Israel com as Divindades dos inimigos, especificamente seus monstros e demônios. Ou seja: em vez de referir-se a seu inimigo como esta ou aquela tribo ou cidade, eles referem-se a eles como monstros. Seus inimigos não são mais pessoas, mas demônios que devem ser destruídos. Esse processo é chamado de DEMONIZAÇÃO

Naquele período, os judeus caracterizam as crenças e observâncias religiosas de seus vizinhos não-judeus como "abominações" e descrevem-nos como "leitores da sorte, adivinhos, encantamentos, adivinhação, preparação de feitiços, oráculo e consulta com fantasmas e espírito dos mortos" (Dt. 18, 10-12). Os escritores judeus negligenciam o fato de que sua própria prática religiosa envolve profetização por oráculos que freqüentemente consultam líderes e profetas mortos, e que de fato dizem os destinos e fortunas de outros. O que seria rotulado como a preparação de feitiços - tais como enviar uma praga de gafanhotos - quando feito por um de fora, é considerado milagre de deus quando realizado por alguém de dentro. Um problema com a visão de mundo "nós e eles" é que ela freqüentemente condena o comportamento dos de fora e glorifica o dos de dentro, mesmo quando o comportamento é exatamente o mesmo.

Uma das primeiras formas com que Satã é retratado na literatura hebraica é como "o princípio da oposição" ou "uma obstrução a um objetivo". E nesse perspectiva de oposição e obstáculo, Satã aparece também em Crônicas 21,1, quando o Rei David ordena a taxação de seu povo. A Bíblia diz: "O Satã se dispos contra Israel e incitou David a numerar o povo". Aqui nós vemos uma ação impopular demonizada mesmo que realizada pelo próprio rei de Israel.

Por volta do primeiro e segundo séculos d.C., vemos a formação de alguns poucos sectos judeus separadistas que se retiram da cultura judaica predominante, geralmente para viver as leis judaicas mais "puramente". Os essênios são um exemplo desses grupos. Os escritos desses grupos caracterizam os judeus que não pertencem ao secto como "satãs", acusam-nos de estarem em oposição e de serem seduzidos pelo mal.

Pela primeira vez, nós vemos judeus demonizando outros judeus. Quanto mais esses sectos se separavam a si mesmos da cultura predominante, mais tornam-no uma figura personificada e lhe atribui diversas histórias diferentes. Essas histórias geralmente colocam Satã na posição de um anjo que se engaja em combate com forças celestiais e perde.

Não surpeende a tendência para descrever o mundo como uma zona de combate celestial. Os primeiros cristãos são, depois de tudo, considerados por alguns historiadores tendo sido inicialmente um secto separatista judeu. Os evangelhos, particularmente os de Mateus e Lucas, descrevem a vida e ministério de Jesus como uma luta cósmica entre as forças do bem e do mal. Satã e suas forças estão em guerra com Javé e Jesus, e eles conspiram sobre a destruição e crucificação de Jesus. Satã também é considerado a causa do conflito entre Jesus e a liderança judaica.

Em João 8, 44, Jesus denomina os judeus de "filhos do demônio", um comentário extremamente infeliz que apoiou o anti-semitismo por séculos. Ao final dos evangelhos, a demonização dos de fora é focalizada nos judeus e quaisquer outros que se oponham a Jesus e à nova igreja.

A perseguição dos cristãos nos primeiros séculos depois de Cristo, aumentaram a noção dos cristãos de combate entre as forças do bem e do mal. Apesar de a Cristandade poder ter começado como um secto do Judaísmo, no tempo das perseguições, a maioria dos cristãos eram Gentios (não judeus). Durante esse período, a escritura cristã mudou o foco de combate, ou demonização, de judeus para as autoridades romanas.

Pode trazer certa surpresa para você que, ao final do Século II d.C, e do reino de Marco Aurélio (161-180), a maioria dos filósofos romanos eram monoteístas. Apesar de que a divindade era identificada por muitos nomes, os cânticos e hinos começaram a identificar as Divindades como um único ser. No tempo de Marco Aurélio, muitos romanos acreditavam na unidade de todos os deuses, e demônios, em uma fonte divina.
Parte do que enfurecia os romanos não era o monoteísmo cristão, mas seu conceito de Satã. Como o filósofo platônico Celsus escreveu em 180 d.C., ele acreditava que os cristãos mostravam sua ignorância ao "criar um ser oposto a Deus e chamá-lo de 'demônio' ou, na linguagem hebraica, 'satã'. É uma blasfêmia dizer que o Deus supremo possui um adversário que restringe sua capacidade de fazer o bem".

Celsus acusa os cristãos de inventar uma rebelião celestial a fim de justificar uma rebelião terrena. Sua acusação tem certo mérito, uma vez que os antigos cristãos usaram sua crença em Satã para justificar sua retirada de uma sociedade que eles viam como escravizada pelos demônios (as divindades romanas). Aqueles que se tornavam cristãos eram obrigados a cortar relações com sua família e parar de dar suporte à sua cidade. Eles aprendiam que todos os laços de nação, sociedade e família eram maus. Celso pergunta o que mais se pode esperar "...daqueles que se apartaram do resto da civilização. Pois, ao dizer isso, eles estão projetando realmente seus próprios sentimentos em Deus".

Lembre-se de que a liberdade de religião como nós conhecemos não existia naquele tempo. Os desvios eram considerados blasfêmia e arduamente perseguidos por muitas culturas. Os romanos inclusive. Infelizmente, a Cristandade desenvolveu-se nesse mesmo ambiente intolerante.

Em 180 d.C., o escritor cristão Irineu produziu sua grande obra de cinco volumes, sobre hereges, denominados "Contra Heresias". Um herege, segundo Irineu, é um companheiro cristão cujos pontos de vista diferem do consenso e, por isso, é um agente de Satã. Pela primeira vez, nós vemos a palavra "herege" na literatura cristã e o início da demonização de cristãos por outros cristãos. Tertuliano, um contemporâneo de Irineu, destaca que a palavra heresia (hairesis) significa literalmente "escolha" e um herege é "aquele que faz uma escolha". Ele afirma que fazer escolhas é mau e sugere que os líderes da igreja que queiram eliminar a heresia não permitam que as pessoas façam perguntas, pois são "... perguntas que tornam as pessoas hereges".

Há muito tempo em nossa história, Satã tem sido utilizado para descrever uma variedade de pessoas "de fora" - novamente, como uma parte de uma visão de mundo "nós e eles" -, começando com tribos não-israelitas e finalmente outros cristãos. Santo Antônio (250-355 d.C.), um renomado monge do deserto que influenciou enormemente o monasticismo, levou Satã um passo mais longe quando ensina a seus monges que Satã é o próprio EU, ou Self. De acordo com Santo Antônio, Satã são nossos pensamentos, imaginação e impulsos. Agora, até mesmo a presença mais íntima - a de nosso EU - é demonizada.

POR QUE CAÇA ÀS BRUXAS?

Por volta dos séculos XI e XII, ações tomadas contra hereges começam a acusá-los de bruxaria e adoração do demônio. Em 1320, a Bruxaria foi adicionada à lista de heresias da Inquisição. E 1484, o Papa Inocêncio VIII lançou sua famosa bula que cedia aos inquisidores total autoridade para capturar, torturar e punir "bruxas".

Dois anos depois, os inquisidores Heinrich Kramer e Jacob Sprenger - ambos padres dominicanos - publicam seu livro "The Malleus Maleficarum" ou "O Martelo das Bruxas". Seu livro determina os métodos para identificar e torturar "bruxas", e se tornou o texto padrão para caçadores de bruxas pelos três séculos seguintes.

Como a história chegou a esse ponto forma um estudo interessante que preenche muitos livros, mas aqui estão os destaques: São Tomás de Aquino, também um dominicano, chegou à conclusão (depois de estudar Aristóteles e outros) que as mulheres eram homens defeituosos, ou seja, as mulheres existem por causa de um erro na concepção ou no processo de gestação. Na época de Tomás, acreditava-se que os homens eram o único agente ativo que causava a gravidez e que as mulheres não contribuíam em nada para a concepçõa, sendo apenas recipientes passivos. Tomás acreditava piamente que um elemento ativo só pode produzir algo igual a si mesmo, por isso, apenas homens deveriam nascer do ato sexual. Dito de outra forma: a energia do sêmen objetiva produzir algo tão igualmente perfeito quanto a si mesmo, mas devido a circunstâncias desfavoráveis - tais como ventos úmidos do sul - mulheres são ocasionalmente produzidas. Por isso, uma mulher começa sua vida como um fracasso biológico - um "homem desenvolvido mentalmente retardado" - que é obviamente "defeituosa em sua habilidade de raciocínio". De acordo com Tomás, por causa da influência desses ventos úmidos do sul, as mulheres possuem um conteúdo maior de água do que os homens e são mais facilmente seduzidas pelo prazer sexual e pela tentação.

Kramer e Sprenger ficam muito impressionados com o raciocínio de Tomás e o citam freqüentemente. Eles compartilham sua visão das mulhres, como vemos a seguir:
Toda maldade é senão pouca em vista da maldade de uma mulher... O que é a mulher senão um inimigo para a amizade, uma punição inescapável, um mal necessário, uma tentação da natureza, uma calamidade de desejos, um perigo doméstico, um detrimento delicioso, um mal da natureza, pintado com belas cores!

Além disso, como Kramer e Sprenger concordam com Tomás que aqueles prejudiciais ventos úmidos do sul tornam as mulheres mais suscetíveis à tentação sexual, eles acreditam que deve haver mais bruxas mulheres do que homens, como vemos nesta passagem:

Toda bruxaria vem dos desejos da carne, que é insaciável nas mulheres. De acordo com Provérbio 30: "Há três coisas que não são nunca satisfeitas, e não apenas;´há uma quarta coisa que nunca diz 'é o bastante', ou seja, a boca do útero". Por isso, pelo bem de satisfazer seus desejos, elas se associam até mesmo com demônios... E abençoado seja o Altíssimo que por sua vez preservou o sexo masculino de um crime tão grande: pois uma vez que era deste sexo quando Ele desejou nascer e sofrer por nós, por isso Ele garantiu ao homem este privilégio.

Então, ai está. A caça às bruxas foram o produto de vários séculos de ignorância em relação às mulheres e ao sexo enraizado no desconhecimento biológico, idéias que hoje parecem tão ridículas que nós não podemos imaginar que alguém acredite nelas, muito menos agindo com base nelas. Estas crenças ilustram muito bem, entretanto, como elas constroem-se umas sobre as outras, conceito por conceito, até formarem um sistema de crenças. Esse sistema torna-se um molde em torno do qual as pessoas atuam para criar uma certa realidade. O tipo de realidade que é criada mostra os méritos das crenças que a suportam

O QUE ACONTECIA À ACUSADA?

O processo de caça às bruxas normalmente se dava assim: uma bruxa acusada era primeiramente obrigada a confessar. Se ela se recusasse, era colocada sob tortura. Enquanto ela era torturada, o inquisidor fazia uma série de perguntas e um assistente anotava suas respostas - até que a acusada confessasse. Para isso, os torturadores eram pagos com dinheiro da vítima. As despesas incluíam os custos da tortura, as refeições dos torturadores, hospedagem, diversão e viagem. Os bens de bruxas confessas e hereges eram confiscados. Depois da confissão, a maioria das vítimas era condenada à morte, apesar de que algumas eram libertadas.

Não está claro quantas pessoas foram mortas na Inquisição, mas historiadores modernos geralmente colocam o número entre quarenta mil e duzentas mil, a maioria mulheres e alemãs. A Inquisição atingiu seu auge nos séculos XVI e XVII, o mesmo período no qual a primeira tradução da Bíblia para o inglês - versão do Rei James - foi completada. A injustiça às bruxas, feita pelos tradutores ingleses, torna-se mais clara quando comparada aos mais antigos manuscritos gregos e hebraicos, manuscritos que foram considerados perdidos e, por isso, não disponíveis na época em que a tradução inglesa ocorreu.

Vamos ver mais de perto a injustiça às bruxas na versão da Bíblia do rei James, começando com a palavra hebraica "KASHAPH". Ela significa "sussurrar" ou "murmurar encantamentos e orações" ou até mesmo "fofocar"; foi traduzida para o inglês como "bruxaria" e "feitiçaria". Os primeiros tradutores gregos, por outro lado, achavam que a raiz da palavra kashaph significava "envenenador", visto que em seus textos tendem a utilizar a palavra "pharmakeia". Esta significa literalmente "medicina" ou "droga" e é a raiz da nossa palavra farmácia. A tradução do Rei James escrevem Exodo 22, 18 como: "Tu não deves permitir que uma bruxa viva" - quando deveria se referir a um envenenador, um intrigueiro ou pessoa fofoqueira.

UMA IMAGEM FABRICADA

Os inquisidores abordavam uma bruxa acusada já com idéias na mente - apesar de estranhas - sobre o que era "bruxa" e o que uma bruxa fazia, e eles faziam as perguntas de acordo. Como a acusada era torturada, o inquisidor fazias as questões mais de uma vez. A tortura continuava até que o inquisidor conseguisse as respostas que ele queria. Como nós sabemos hoje, pessoas sob tortura dirão qualquer coisa. Se uma pobre camponesa é questionada se ela matou e comeu bebês em um culto satânico enquanto um atiçador de fogo é enfiado em seu olho, o que você acha que ela vai dizer? Você não confessaria?

Nós percebemos que estamos sendo duros quanto a isso, mas esse processo é como a imagem das bruxas foi criada. Como as décadas viraram séculos e os inquisidores compartilharam informações, o quadro do que era uma bruxa foi modificado e cresceu. Bruxas comiam bebês, tinham relações sexuais com Satã e animais, mantinham gatos como familiares, arruinavam plantações, faziam o gado adoecer, tentavam assassinar padres e reis, bebiam sangue, realizavam rituais negros, blasfemavam Deus, desrespeitavam objetos sagrados, chamavam demônios, voavam em vassouras e assim por diante. Essa progressão é contada em um enorme corpo de histórias, tais como as bibliografias de Graesse, os catálogos de Abbé Sépher, os três volumes do Manual Bibliographique, as duas mil fontes contidas na bibliografia de Yve-Plessis e os 46 volumes do Dr. Hoefer, Schieble e Stanilas de Guaita.

Mas não apenas a igreja e suas autoridades promoverm essas informações fabricadas como sendo verdadeiras, como também as pessoas comuns, que eram não só analfabetas mas também aterrorizadas. Assim, a injustiça contra as bruxas continou por cerca de quatrocentos anos e estende-se, no presente, a Hollywood.

(continua)

A Consciência da Verdadeira Bruxa

Por razões óbvias, confessar-se Bruxa (o) equivale a confessar-se como habitante do mundo encantado e mágico do universo. É tornar-se atemporal. O passado torna-se real e não um mero relato dos livros de história e dos autos religiosos. Nos tornamos uno. Partícula infinitamente pequena na grande engrenagem de um todo. Nos sentimos impulsores do sistema e assim, o verdadeiro sentido de responsabilidade e comprometimento passa a ser inerente ao nosso ser e a escrever a nossa história.

A nossa religião não se edifica apenas com o bom conhecimento das celebrações, ou como se usar corretamente este ou aquele instrumento, como também não deixa de ser forte com a falta de lugares sagrados da mesma forma, que é comprovadamente impossível se tornar uma bruxa(o) de verdade, sem uma iniciação sistemática, pois 70% do ensinamentos e vivências são transmitidos oralmente. Ela é forte e perene, quando no fundo da alma surgem os questionamentos sobre o sentido da vida e da morte. Das perguntas nas horas de insônia, em frente ao espelho, vislumbrando o mar, descortinando o inconsciente, se buscando. Enfim, se auto conhecendo.

Primeiro porque ao se conhecer se conhece a Deusa Mãe intrínseca na alma humana.

Segundo, porque ao encontrarmos a Deusa em nós, aprendemos a nos respeitarmos enquanto mulheres e homens. Desenvolvemos a ética, o respeito ao próximo, a civilidade, a cidadania. Aprendemos o valor da palavra dada.

Terceiro, estimulamos a sinceridade, a fidelidade e a generosidade em nós, e nas pessoas com quem convivemos, por entendermos nitidamente o valor dos relacionamentos entre os seres humanos.

Quarto, por respeitarmos, conhecermos e vivenciarmos as Tradições da nossa História e Religião, aprimoramos os nossos mais diversificados sentimentos em relação a todos os irmãos Bruxos.

Quinto, nos tornamos fieis aos nossos princípios por compreendermos a nossa trajetória no Planeta Terra.

Sexto, nos tornamos sensíveis aos fenômenos da natureza por vivenciarmos com a alma e o coração as nítidas transformações energéticas climáticas e geográficas, por nos sentimos participantes inatos deste sistema.

Sétimo, por nos conscientizarmos da máxima lei do Universo, que toda força, ao ser impulsionada segue o fluxo natural circular, dando a volta no Universo três vezes, retorna ao ponto impulsionador. Ou seja, quaisquer uma das forças emitidas: luz, pensamentos, intenções através de ações, palavras, energias, etc... voltarão ao ponto de partida, consequentemente a quem as emitiu, nos impomos o comprimento da lei tríplice: Faça o que quiseres desde que não prejudiques a ninguém, pois recebemos exatamente o que damos.

Oitavo, somos verdadeiramente livres por conhecermos e aplicarmos as leis do Universo. Ou seja: todos somos iguais no grande útero da Grande Mãe, o Planeta Terra que nos acolhe, assim, somos parte de todos os reinos da natureza, mineral, animal e vegetal.

Nono, desencadeamos em nossas almas e mentes a habilidade de manusearmos com as energias vitais do ambiente em que vivemos, a natureza, o que chamamos de magia.

Décimo, por conhecermos e usarmos a habilidade da magia, nos impomos uma conduta responsável para com a vida de maneira geral e concreta.

Décimo primeiro, por estarmos sempre atentos e estudarmos a “Ordem mundial”, seja social, econômica e política, criamos critérios para uma postura pessoal, coerente e defensora aos direitos humanos.

Décimo segundo, por temos sido vilmente execrados ao longo de dois mil anos de história, procuramos ao longo deste mesmo período negro da história humana, neutralizar todo e qualquer preconceito, de qualquer ordem e origem.

Décimo terceiro, por termos sido vítimas do poder machista desumano e arbitrário por dois séculos de poder masculino, procuramos desenvolver e estabilizar o poder do feminino, através da tomada de consciência da verdadeira missão da mulher no Planeta Terra, que é a procriação, o acolhimento, a plenitude através do amor pleno e a formação de mulheres e homens mais livres e conscientes para a formação de um mundo melhor e de sociedades mais justas para se viver no futuro.

O que na realidade está ocorrendo agora e com freqüência, é que as mesmas perguntas em relação aos Deuses do passado se articulam agora, travestidas, por meios de comportamentos existências das mais diversas formas sociais.

Promessas terapêuticas de paz individual, de harmonia íntima, de liberação das angústias , esperanças de ordem social . De uma sociedade mais justa e igualitária, de resoluções das lutas entre os homens e de harmonia com a natureza. Por mais disfarçados que estejam os que usam do jargão psicoanalítico/ psicológico, ou da linguagem da sociologia, da política e da economia, as máscaras disfarçam apenas a sua verdadeira cara, para aqueles que não estão preocupados em brotarem sua própria semente e renascer de forma simples, sem forçar o racionalismo, sem rótulos deste ou daquele segmento. A Bruxaria está totalmente intrínseca a nossa experiência pessoal. Muito, mas muito mais do que possamos perceber e admitir. Se somos verdadeiramente bruxos, somos desde que nascemos, nos iniciando em covens ou não, simplesmente somos.

Quando estudamos a nossa religião, e nos iniciamos nos caminhos da Deusa, estamos apenas olhando ao longo de uma janela que por algum tempo a mantivemos fechada, e que neste momento, a abrimos para vislumbrarmos o panorama externo, que os nossos olhos pararam de ver pelo simples fato da janela está fechada. A consciência dos Deuses em nós é "autoconsciência". O conhecimento da Deusa, em toda a sua potencialidade é auto conhecimento. A antiga religião é solene ao desvelar os tesouros verdadeiros do homem, do seu oculto, que é a revelação íntima dos seus segredos de amor.

E quero acrescentar: e que tesouro oculto não é religioso? não religa o homem a alguém ou a alguma coisa? Amar , viver em estado de amar é exercer plenamente a religião da Deusa. E que confissões íntimas de amor não estão grávidas de Deuses? E quem seria esta pessoa vazia de tesouros ocultos e de segredos de amor?

O OCULTO É MERA E EXCLUSIVAMENTE UMA QUESTÃO DE PRESERVAÇÃO E O ESTÍMULO PARA A SAGRADA BUSCA.

Graça Azevedo / Senhora Telucama Suma Sacerdotisa do Templo Casa Telucama



Ser Neopagão é estar na Terra, e tê-la dentro de si mesmo.
Abençoados sejam

sábado, maio 12, 2007

Aprendendo a ler pensamentos

Aprendendo a ler pensamentos
Por Zhannko Idhao Tsw

Antes de mais nada gostaria de esclarecer que não sou psicólogo e, neste texto, usarei algumas expressões conhecidas mas que talvez não tenham o significado que normalmente lhes são atribuídos. Este texto e suas expressões são o resultado de minhas pesquisas e experiências pessoais, e meu entendimento particular decorrente delas. Tentarei, quando necessário, ser o mais claro possível ao passar as idéias, e espero que as mesmas encontrem o eco correto de acordo com os padrões de entendimento e interpretação de cada leitor.

Ao contrário do que normalmente se pensa, ler pensamentos não é algo difícil, mas justamente o contrário; é algo não apenas fácil mas virtualmente inevitável. Deepack Chopra afirma em seus livros que, embora nosso cérebro seja definido no espaço e no tempo, restrito dentro de nossa caixa craniana, nossa mente não é. Segundo ele aquilo que nós somos de fato, nossa consciência ou, como diria Gurdjief, o observador, é não-temporal e não-espacial, não limitado nem pelo espaço nem pelo tempo. Assim, a consciência está em todo lugar e em todo tempo.

Diariamente estamos imersos em um mar de ondas-pensamentos onde nossos cérebros funcionam como receptores e transmissores. Ao mesmo tempo que somos influenciados por esse mar de ondas-pensamento também somos seus criadores e mantenedores. Aldous Huxley deixa claro em "As portas da percepção" que a função essencial de nosso cérebro é filtrar a infinidade de estímulos que nos cerca, deixando passar para o nível consciente (para o observador) apenas aquilo que é importante para a sobrevivência biológico do organismo. Se assim não fosse nossa consciência estaria tão saturada com percepções que a vida, tal como a conhecemos, seria impossível.

Ao mesmo tempo em que essa filtragem é necessária e benéfica, também é nosso grande obstáculo. Castaneda fala da necessidade de transcender a realidade cotidiana para conseguir ver o mundo como ele é de fato, sem limitações, ou ao menos sem as limitações com que estamos habituados, conseqüências de nossos sentidos de percepção. Em seus livros Dom Juan, ao ensinar seu aprendiz de feiticeiro, resume todo seu ensino numa única frase: todo o treinamento consiste em desaprender o que você aprendeu. James Redfield, em A profecia celestina, faz referência a característica que possuímos de desenvolver respostas automáticas para estímulos externos, criando, ao longo dos anos, uma espécie de couraça mental onde a maioria das nossas reações são respostas automáticas. É como se funcionássemos, a maior parte do tempo, em piloto automático.

Isso ocorre porque, desde nosso nascimento, nossa consciência é progressivamente treinada para se enquadrar nos padrões presentes neste mundo e que são conhecidos como a realidade comum. Assim nos habituamos a focar nossa atenção, e consciência, em apenas alguns elementos que são, segundo Huxley, necessários a nossa sobrevivência e para manter nossa relação com o meio em que nos encontramos. O lado ruim desse treinamento é que, quanto mais nos embrenhamos na realidade comum e nos entrozamos a ela, mais limitamos nossas percepções sensoriais e nossas possibilidades de perceber o mundo. Quando Dom Juam diz que devemos desaprender ele quer dizer que devemos deixar de lado nossos padrões mentais de reconhecimento e resposta que fazem nossa ligação com o mundo exterior.

Huxley realizou diversas experiências com substâncias alucinógenas a fim de ultrapassar os limites comuns de percepção. Castaneda também, num primeiro momento, utilizou a Erva do Diabo, passando depois a adotar outros exercícios com a finalidade de quebrar o padrão de respostas automáticas citado por Redfield, tais como, a técnica no "não fazer", a espreita (ou observação atenta), o "andar do guerreiro", dentre outras. O objetivo de tais exercícios é fazer com que o sujeito mude seus padrões mentais e conseqüentemente seus padrões de percepção, saindo do piloto automático, a aprendendo a ver aquilo que sempre esteve diante de seus olhos, mas nunca foi percebido de forma consciente.

Um exemplo: você vai a uma feira de frutas e diz para seu acompanhante procurar uma fruta do conde. Andando pela feira ele irá procurar a tal fruta de barraca em barraca, focando sua atenção nisso. Chegando no final da feira, tenha ele encontrado ou não a fruta, pergunte-lhe se ele viu, por acaso, os kiwis que estavam em uma determinada barraca. Provavelmente ele dirá que não os viu. Porque? Pelo simples fato de que não os estava procurando. As imagens dos kiwis ficaram gravadas em seu subconsciente, e poderão ser acessadas por algum processo de hipnose, mas ele não lhes tomou conhecimento a nível consciente. Da mesma forma, muitas informações que chegam a nossos sentidos de percepção, nos passam despercebidos, simplesmente porque nossa atenção não estava dirigida a elas.

Da mesma forma os pensamentos das pessoas a nossa volta, próximas ou distantes, estão o tempo todo a atravessar nosso cérebro e sensibilizar nossos sentidos de percepção, só que nós nos habituamos a ignorar esses sinais, focando nossa atenção naquilo que nos é mais essencial para nosso nossa sobrevivência ou nosso prazer imediatos. O grande segredo para se ler pensamentos então, não é capta-los, pois isso é coisa não só possível como inevitável, mas sim, desenvolver a habilidade de, conscientemente, conseguir distinguir, dentre a massa de ondas-pensamentos que nos abordam todo o tempo, aquelas ondas específicas que são de nosso interesse.

Para tanto, o primeiro passo a ser dado é perceber que nós não somos os nossos pensamentos, mas estes são parte de nós. Pensamentos e consciência são coisas distintas, mesmo que se influenciem mutuamente e se entrelacem a tal ponto em que se tornem praticamente inseparáveis. Nesse sentido algum método de meditação, como o adotado por Gurdjief, praticantes budistas ou outros, que focam a importância do observar atentamente e do não-pensar, pode ser muito útil. A medida que se habitua a observar os próprios pensamentos percebe-se que eles são quase como entidades próprias, vagando por nossas mentes como folhas sopradas pelo vento. A partir do momento em que se consegue distinguir os pensamentos como elementos relativamente distintos de nós mesmos, conseguimos diferenciar melhor o que é onda-pensamento do que é a consciência (o observador) que percebe as ondas-pensamento.

O segundo passo é aprender a diferenciar pensamentos internos de pensamentos externos. Pensamentos internos são aqueles cuja origem são nossa própria mente, resultado de nossos desejos, medos, vontades, alegrias, tristezas, etc., normalmente guardados em nosso subconsciente, de onde ecoam em todas as direções e ajudam a compor o mar de ondas-pensamentos em que estamos mergulhados. Pensamentos externos são aqueles cuja origem são as mentes de outras pessoas, que chegam até nós por telepatia. Ainda aqui a técnica meditativa de observar, com uma pequena adaptação, pode ser de grande utilidade. Observando os pensamentos que passam por nossa percepção, com o tempo, começamos a perceber padrões que se repetem. Esses padrões vão nos indicar as origens mais prováveis dos pensamentos, se externas ou internas.

Neste ponto um exercício que pode ajudar bastante é o que se poderia chamar de exercício de proximidade. Ele se baseia no campo de energia que normalmente rodeia as pessoas. Esse campo é mencionado por diversos místicos e esotéricos, e já foi medido por pesquisadores russos através de aparelhos eletrônicos sensíveis. Segundo a parapsicologia, que estuda fenômenos paranormais (alguns relacionados direta ou indiretamente com esse campo), ele se estende a cerca de 5 ou 10 metros de distância da pessoa que o gera. Pessoas com percepção bem treinada conseguem perceber esse campo a distâncias de até 15 ou 20 metros. Nele estão gravadas várias de nossas qualidades, emoções e, pensamentos. Também estão gravados nosso passado e nosso futuro, sendo justamente através dele que os videntes costumam fazer suas leituras, mas isso já é tema para outro texto. A habilidade de perceber esse campo é chamado, na parapsicologia, de Hiperestesia, e a habilidade de ler pensamentos por meio dele é chamado Hiperestesia Indireta do Pensamento.

Gostemos ou não, percebamos ou não, nosso campo influencia as pessoas a nossa volta e é influenciado por elas. Aprender a perceber esse campo e sua influência sobre nossos pensamentos (e emoções) é muito útil no desenvolvimento da habilidade de diferenciar pensamentos internos de externos. A prática é bastante simples: quando estiver conversando com outra pessoa, ponha-se em estado receptivo e limpe a mente, tentando não pensar em nada, prática desenvolvida nas atividades meditativas de observação. Tranqüilamente observe os pensamentos que passam por sua mente, sem questionar, sem qualificar, sem criticar ou elogiar, apenas observando e registrando. Num primeiro momento provavelmente não se consiga distinguir pensamentos mas apenas sensações ou emoções, elementos que são normalmente mais intensos e por isso de mais fácil percepção, tais como raiva, medo, alegria, afeto, etc. Com a prática constante e observação atenta começará a perceber, em sua mente, os pensamentos da outra pessoa, emanados pelo campo dela e induzidos no seu campo pessoal. Para esta prático, lembro, é fundamental limpar a mente da forma mais completa possível para evitar que seus próprios pensamentos, medos ou anseios, distorçam a leitura.

Depois que se conseguiu adquirir certa mestria em perceber padrões de pensamento através do exercício de proximidade podemos passar para uma atividade um pouco mais difícil, que é perceber padrões de pensamentos recebidos por telepatia, vindos de origens distantes no espaço. Uma vez que você já tenha identificado seus próprios padrões de pensamento e também as formas como outras pessoas influenciam seus padrões através da proximidade, pela observação atenciosa em momentos de prática meditativa, torna-se relativamente fácil perceber quando ocorre uma intrusão, em sua mente, de uma onda-pensamento externa. Logo que perceba o pensamento vagando em sua mente você notará que ele não segue seus padrões pessoais e, portanto, é de origem externa. Com mais prática será possível, também, identificar a origem desses pensamentos e, até mesmo,através de um estado constante de vigília, perceber qualquer onda-pensamento externa que chegue, vinda de qualquer origem e a qualquer hora.

Todo o procedimento aqui descrito é simples, embora não necessariamente fácil. Acredito não ser necessário mencionar a importância de se desenvolver tal habilidade, tanto no sentido de auxiliar a pessoas queridas, de forma próxima ou a distância, tanto quanto no sentido de autoproteção contra influências externas danosas, sejam de qual origem for. Influências insalubres pessoais, através do campo de pessoas bioenergeticamente desequilibradas, intencionais ou não, podem ser facilmente evitadas, evitando-se proximidade física com a pessoa, mas influências no campo mental, à distância, são particularmente perigosas porque são essencialmente invisíveis e não identificáveis.

Através das práticas mencionadas aqui pode-se desenvolver a habilidade de, a qualquer momento, perceber a chegada de ondas-pensamentos, e seus ecos correspondentes em nosso campo de bioenergia pessoal e nossa mente, no exato momento em que chegam, e tomar as providências cabíveis para a proteção psíquica. Também não preciso lembrar, creio, que pensamentos, mesmo que pareçam inofensivos num primeiro momento, depois de um certo tempo ecoando em nosso subconsciente e por conseqüência também em nosso campo bioenergético pessoal, podem influenciar de forma desfavorável nosso equilíbrio físico, prejudicando nossa saúde, e também nosso equilíbrio e bem estar mental.

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Zhannko Idhao Tsw
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