quarta-feira, maio 16, 2007

E quanto a Satã?

E QUANTO A SATÃ?
Joyce & River Higginbotham

Cedo ou tarde alguém que você conhece encherá seus ouvidos sobre como os pagãos adoram a Satã. Não que eles estejam lhe dizendo algo novo. Você já ouviu isso antes.
Uma vez que a associação de pagãos e bruxas com o Satanismo é profundamente enraizada em nossa cultura, você não vai ser capaz de evitar tocar no assunto de Satã à medida que crescer espiritualmente. Se escolher tornar-se um pagão, em algum momento você terá que reconciliar quem você é com o que os outros dizem que você é. Isso significa que precisará encontrar um novo ponto de vantagem a partir do qual visualizará a sociedade e a si mesmo em relação a isso, para formar mais claramente suas idéias sobre bom e mau, identificar sua compreensão do que o faz ter medo e compreender o que essa sociedade teme sobre si mesma. Isso significa que você vai ter que se adaptar a Satã.

Devemos nos perguntar sobre: Que funções sociais e religiosas Satã possui? Qual é o papel de Satã na mitologia? Quem são os satanistas? Um satanista pode ser pagão?

COMO OS PAGÃOS VÊEM SATÃ?

Esta é uma questão que não é facilmente respondida, uma vez que cada pagão tem sua própria opinião sobre o assunto. A maioria dos pagãos vai concordar que, seja o que for Satã, ele é pelo menos uma divindade do panteão judaico-cristão-muçulmano. E por isso mesmo, visto que os pagãos preferem não manter uma conexão com esse panteão, a maioria dos pagãos não acredita em Satã ou lhe oferece qualquer energia ou homenagem. Uma vez que os pagãos não acreditam em Satã, eles não o adoram. Como os pagãos não necessariamente descrevem seu relacionamento com a Divindade como uma relação de adoração, então a idéia de adorar Satã é um conceito estranho em qualquer caso.

Os pagãos acreditam que Satã existe ou não? Novamente, o ponto de vista do pagão vai refletir sua visão de Divindade. Assim como é utilizado por muitos pagãos, o termo "divindade" pode referir-se ao ser espiritual, força ou poder. Por isso, os pagãos geralmente consideram satã uma divindade. Se um pagão acredita que as divindades são seres antropomórficos, então ele ou ela verá Satã como um ser antropomórfico. Se acredita que as Divindades são arquétipos, então ele ou ela verá Satã como um padrão psicológico ou energético. Se acredita que Divindades são correntes de poder, então ele ou ela provavelmente verá Satã como uma ou mais correntes de energia específicas. Se vê a Divindade como uma forma-pensamento, então ele ou ela provavelmente tomará a posição de que, mesmo se Satã não existisse antes, agora ele existe por causa de toda a energia que milhões de mentes têm-no alimentado por séculos.
Vamos ver mais profundamente Satã como uma Divindade e, em particular, como ele foi associado aos pagãos.

PAGÃOS, BRUXAS E MÁS REPUTAÇÕES

Os pagãos e bruxas são freqüentemente intitulados "adoradores do demônio", apesar do fato de que Satã ou o demônio é um conceito juceu-cristão-muçulmano. Como essa rotulação errônea acontece? Uma rápida viagem pela história vai fornecer respostas.
Nossa história começa com os antigos hebreus. Como um povo, os hebreus esforçaram-se para criar e manter a identidade social e religiosa em um ambiente hostil durante um período no qual eles foram envolvidos em repetidas guerras. Os hebreus acreditavam que eram um povo escolhido por sua Divindade - denominada JAVÉ. Antes de Moisés conduzir os israelitas para fora do Egito, ele diz ao Faraó que as pragas estão chegando, "então você deve saber que o Senhor faz uma distinção entre egípcio e Israel" (Ex. 11, 7). Da perspectiva de Moisés, Israel é favorecido por Javé, e aqueles que estão fora de Israel (os egípcios) não são. Nós podemos caracterizar essa perspectiva como uma visão de mundo de "pessoas de dentro e pessoas de fora" ou "nós e eles".

Essa visão de mundo desenvolveu-se como um tema proeminente ao longo dos escritos hebraicos, que nós conhecemos como "Antigo Testamento". Os séculos VI e VII a.C. levam mais longe o tema. Os profetas subitamente substituem descrições dos inimigos de Israel com as Divindades dos inimigos, especificamente seus monstros e demônios. Ou seja: em vez de referir-se a seu inimigo como esta ou aquela tribo ou cidade, eles referem-se a eles como monstros. Seus inimigos não são mais pessoas, mas demônios que devem ser destruídos. Esse processo é chamado de DEMONIZAÇÃO

Naquele período, os judeus caracterizam as crenças e observâncias religiosas de seus vizinhos não-judeus como "abominações" e descrevem-nos como "leitores da sorte, adivinhos, encantamentos, adivinhação, preparação de feitiços, oráculo e consulta com fantasmas e espírito dos mortos" (Dt. 18, 10-12). Os escritores judeus negligenciam o fato de que sua própria prática religiosa envolve profetização por oráculos que freqüentemente consultam líderes e profetas mortos, e que de fato dizem os destinos e fortunas de outros. O que seria rotulado como a preparação de feitiços - tais como enviar uma praga de gafanhotos - quando feito por um de fora, é considerado milagre de deus quando realizado por alguém de dentro. Um problema com a visão de mundo "nós e eles" é que ela freqüentemente condena o comportamento dos de fora e glorifica o dos de dentro, mesmo quando o comportamento é exatamente o mesmo.

Uma das primeiras formas com que Satã é retratado na literatura hebraica é como "o princípio da oposição" ou "uma obstrução a um objetivo". E nesse perspectiva de oposição e obstáculo, Satã aparece também em Crônicas 21,1, quando o Rei David ordena a taxação de seu povo. A Bíblia diz: "O Satã se dispos contra Israel e incitou David a numerar o povo". Aqui nós vemos uma ação impopular demonizada mesmo que realizada pelo próprio rei de Israel.

Por volta do primeiro e segundo séculos d.C., vemos a formação de alguns poucos sectos judeus separadistas que se retiram da cultura judaica predominante, geralmente para viver as leis judaicas mais "puramente". Os essênios são um exemplo desses grupos. Os escritos desses grupos caracterizam os judeus que não pertencem ao secto como "satãs", acusam-nos de estarem em oposição e de serem seduzidos pelo mal.

Pela primeira vez, nós vemos judeus demonizando outros judeus. Quanto mais esses sectos se separavam a si mesmos da cultura predominante, mais tornam-no uma figura personificada e lhe atribui diversas histórias diferentes. Essas histórias geralmente colocam Satã na posição de um anjo que se engaja em combate com forças celestiais e perde.

Não surpeende a tendência para descrever o mundo como uma zona de combate celestial. Os primeiros cristãos são, depois de tudo, considerados por alguns historiadores tendo sido inicialmente um secto separatista judeu. Os evangelhos, particularmente os de Mateus e Lucas, descrevem a vida e ministério de Jesus como uma luta cósmica entre as forças do bem e do mal. Satã e suas forças estão em guerra com Javé e Jesus, e eles conspiram sobre a destruição e crucificação de Jesus. Satã também é considerado a causa do conflito entre Jesus e a liderança judaica.

Em João 8, 44, Jesus denomina os judeus de "filhos do demônio", um comentário extremamente infeliz que apoiou o anti-semitismo por séculos. Ao final dos evangelhos, a demonização dos de fora é focalizada nos judeus e quaisquer outros que se oponham a Jesus e à nova igreja.

A perseguição dos cristãos nos primeiros séculos depois de Cristo, aumentaram a noção dos cristãos de combate entre as forças do bem e do mal. Apesar de a Cristandade poder ter começado como um secto do Judaísmo, no tempo das perseguições, a maioria dos cristãos eram Gentios (não judeus). Durante esse período, a escritura cristã mudou o foco de combate, ou demonização, de judeus para as autoridades romanas.

Pode trazer certa surpresa para você que, ao final do Século II d.C, e do reino de Marco Aurélio (161-180), a maioria dos filósofos romanos eram monoteístas. Apesar de que a divindade era identificada por muitos nomes, os cânticos e hinos começaram a identificar as Divindades como um único ser. No tempo de Marco Aurélio, muitos romanos acreditavam na unidade de todos os deuses, e demônios, em uma fonte divina.
Parte do que enfurecia os romanos não era o monoteísmo cristão, mas seu conceito de Satã. Como o filósofo platônico Celsus escreveu em 180 d.C., ele acreditava que os cristãos mostravam sua ignorância ao "criar um ser oposto a Deus e chamá-lo de 'demônio' ou, na linguagem hebraica, 'satã'. É uma blasfêmia dizer que o Deus supremo possui um adversário que restringe sua capacidade de fazer o bem".

Celsus acusa os cristãos de inventar uma rebelião celestial a fim de justificar uma rebelião terrena. Sua acusação tem certo mérito, uma vez que os antigos cristãos usaram sua crença em Satã para justificar sua retirada de uma sociedade que eles viam como escravizada pelos demônios (as divindades romanas). Aqueles que se tornavam cristãos eram obrigados a cortar relações com sua família e parar de dar suporte à sua cidade. Eles aprendiam que todos os laços de nação, sociedade e família eram maus. Celso pergunta o que mais se pode esperar "...daqueles que se apartaram do resto da civilização. Pois, ao dizer isso, eles estão projetando realmente seus próprios sentimentos em Deus".

Lembre-se de que a liberdade de religião como nós conhecemos não existia naquele tempo. Os desvios eram considerados blasfêmia e arduamente perseguidos por muitas culturas. Os romanos inclusive. Infelizmente, a Cristandade desenvolveu-se nesse mesmo ambiente intolerante.

Em 180 d.C., o escritor cristão Irineu produziu sua grande obra de cinco volumes, sobre hereges, denominados "Contra Heresias". Um herege, segundo Irineu, é um companheiro cristão cujos pontos de vista diferem do consenso e, por isso, é um agente de Satã. Pela primeira vez, nós vemos a palavra "herege" na literatura cristã e o início da demonização de cristãos por outros cristãos. Tertuliano, um contemporâneo de Irineu, destaca que a palavra heresia (hairesis) significa literalmente "escolha" e um herege é "aquele que faz uma escolha". Ele afirma que fazer escolhas é mau e sugere que os líderes da igreja que queiram eliminar a heresia não permitam que as pessoas façam perguntas, pois são "... perguntas que tornam as pessoas hereges".

Há muito tempo em nossa história, Satã tem sido utilizado para descrever uma variedade de pessoas "de fora" - novamente, como uma parte de uma visão de mundo "nós e eles" -, começando com tribos não-israelitas e finalmente outros cristãos. Santo Antônio (250-355 d.C.), um renomado monge do deserto que influenciou enormemente o monasticismo, levou Satã um passo mais longe quando ensina a seus monges que Satã é o próprio EU, ou Self. De acordo com Santo Antônio, Satã são nossos pensamentos, imaginação e impulsos. Agora, até mesmo a presença mais íntima - a de nosso EU - é demonizada.

POR QUE CAÇA ÀS BRUXAS?

Por volta dos séculos XI e XII, ações tomadas contra hereges começam a acusá-los de bruxaria e adoração do demônio. Em 1320, a Bruxaria foi adicionada à lista de heresias da Inquisição. E 1484, o Papa Inocêncio VIII lançou sua famosa bula que cedia aos inquisidores total autoridade para capturar, torturar e punir "bruxas".

Dois anos depois, os inquisidores Heinrich Kramer e Jacob Sprenger - ambos padres dominicanos - publicam seu livro "The Malleus Maleficarum" ou "O Martelo das Bruxas". Seu livro determina os métodos para identificar e torturar "bruxas", e se tornou o texto padrão para caçadores de bruxas pelos três séculos seguintes.

Como a história chegou a esse ponto forma um estudo interessante que preenche muitos livros, mas aqui estão os destaques: São Tomás de Aquino, também um dominicano, chegou à conclusão (depois de estudar Aristóteles e outros) que as mulheres eram homens defeituosos, ou seja, as mulheres existem por causa de um erro na concepção ou no processo de gestação. Na época de Tomás, acreditava-se que os homens eram o único agente ativo que causava a gravidez e que as mulheres não contribuíam em nada para a concepçõa, sendo apenas recipientes passivos. Tomás acreditava piamente que um elemento ativo só pode produzir algo igual a si mesmo, por isso, apenas homens deveriam nascer do ato sexual. Dito de outra forma: a energia do sêmen objetiva produzir algo tão igualmente perfeito quanto a si mesmo, mas devido a circunstâncias desfavoráveis - tais como ventos úmidos do sul - mulheres são ocasionalmente produzidas. Por isso, uma mulher começa sua vida como um fracasso biológico - um "homem desenvolvido mentalmente retardado" - que é obviamente "defeituosa em sua habilidade de raciocínio". De acordo com Tomás, por causa da influência desses ventos úmidos do sul, as mulheres possuem um conteúdo maior de água do que os homens e são mais facilmente seduzidas pelo prazer sexual e pela tentação.

Kramer e Sprenger ficam muito impressionados com o raciocínio de Tomás e o citam freqüentemente. Eles compartilham sua visão das mulhres, como vemos a seguir:
Toda maldade é senão pouca em vista da maldade de uma mulher... O que é a mulher senão um inimigo para a amizade, uma punição inescapável, um mal necessário, uma tentação da natureza, uma calamidade de desejos, um perigo doméstico, um detrimento delicioso, um mal da natureza, pintado com belas cores!

Além disso, como Kramer e Sprenger concordam com Tomás que aqueles prejudiciais ventos úmidos do sul tornam as mulheres mais suscetíveis à tentação sexual, eles acreditam que deve haver mais bruxas mulheres do que homens, como vemos nesta passagem:

Toda bruxaria vem dos desejos da carne, que é insaciável nas mulheres. De acordo com Provérbio 30: "Há três coisas que não são nunca satisfeitas, e não apenas;´há uma quarta coisa que nunca diz 'é o bastante', ou seja, a boca do útero". Por isso, pelo bem de satisfazer seus desejos, elas se associam até mesmo com demônios... E abençoado seja o Altíssimo que por sua vez preservou o sexo masculino de um crime tão grande: pois uma vez que era deste sexo quando Ele desejou nascer e sofrer por nós, por isso Ele garantiu ao homem este privilégio.

Então, ai está. A caça às bruxas foram o produto de vários séculos de ignorância em relação às mulheres e ao sexo enraizado no desconhecimento biológico, idéias que hoje parecem tão ridículas que nós não podemos imaginar que alguém acredite nelas, muito menos agindo com base nelas. Estas crenças ilustram muito bem, entretanto, como elas constroem-se umas sobre as outras, conceito por conceito, até formarem um sistema de crenças. Esse sistema torna-se um molde em torno do qual as pessoas atuam para criar uma certa realidade. O tipo de realidade que é criada mostra os méritos das crenças que a suportam

O QUE ACONTECIA À ACUSADA?

O processo de caça às bruxas normalmente se dava assim: uma bruxa acusada era primeiramente obrigada a confessar. Se ela se recusasse, era colocada sob tortura. Enquanto ela era torturada, o inquisidor fazia uma série de perguntas e um assistente anotava suas respostas - até que a acusada confessasse. Para isso, os torturadores eram pagos com dinheiro da vítima. As despesas incluíam os custos da tortura, as refeições dos torturadores, hospedagem, diversão e viagem. Os bens de bruxas confessas e hereges eram confiscados. Depois da confissão, a maioria das vítimas era condenada à morte, apesar de que algumas eram libertadas.

Não está claro quantas pessoas foram mortas na Inquisição, mas historiadores modernos geralmente colocam o número entre quarenta mil e duzentas mil, a maioria mulheres e alemãs. A Inquisição atingiu seu auge nos séculos XVI e XVII, o mesmo período no qual a primeira tradução da Bíblia para o inglês - versão do Rei James - foi completada. A injustiça às bruxas, feita pelos tradutores ingleses, torna-se mais clara quando comparada aos mais antigos manuscritos gregos e hebraicos, manuscritos que foram considerados perdidos e, por isso, não disponíveis na época em que a tradução inglesa ocorreu.

Vamos ver mais de perto a injustiça às bruxas na versão da Bíblia do rei James, começando com a palavra hebraica "KASHAPH". Ela significa "sussurrar" ou "murmurar encantamentos e orações" ou até mesmo "fofocar"; foi traduzida para o inglês como "bruxaria" e "feitiçaria". Os primeiros tradutores gregos, por outro lado, achavam que a raiz da palavra kashaph significava "envenenador", visto que em seus textos tendem a utilizar a palavra "pharmakeia". Esta significa literalmente "medicina" ou "droga" e é a raiz da nossa palavra farmácia. A tradução do Rei James escrevem Exodo 22, 18 como: "Tu não deves permitir que uma bruxa viva" - quando deveria se referir a um envenenador, um intrigueiro ou pessoa fofoqueira.

UMA IMAGEM FABRICADA

Os inquisidores abordavam uma bruxa acusada já com idéias na mente - apesar de estranhas - sobre o que era "bruxa" e o que uma bruxa fazia, e eles faziam as perguntas de acordo. Como a acusada era torturada, o inquisidor fazias as questões mais de uma vez. A tortura continuava até que o inquisidor conseguisse as respostas que ele queria. Como nós sabemos hoje, pessoas sob tortura dirão qualquer coisa. Se uma pobre camponesa é questionada se ela matou e comeu bebês em um culto satânico enquanto um atiçador de fogo é enfiado em seu olho, o que você acha que ela vai dizer? Você não confessaria?

Nós percebemos que estamos sendo duros quanto a isso, mas esse processo é como a imagem das bruxas foi criada. Como as décadas viraram séculos e os inquisidores compartilharam informações, o quadro do que era uma bruxa foi modificado e cresceu. Bruxas comiam bebês, tinham relações sexuais com Satã e animais, mantinham gatos como familiares, arruinavam plantações, faziam o gado adoecer, tentavam assassinar padres e reis, bebiam sangue, realizavam rituais negros, blasfemavam Deus, desrespeitavam objetos sagrados, chamavam demônios, voavam em vassouras e assim por diante. Essa progressão é contada em um enorme corpo de histórias, tais como as bibliografias de Graesse, os catálogos de Abbé Sépher, os três volumes do Manual Bibliographique, as duas mil fontes contidas na bibliografia de Yve-Plessis e os 46 volumes do Dr. Hoefer, Schieble e Stanilas de Guaita.

Mas não apenas a igreja e suas autoridades promoverm essas informações fabricadas como sendo verdadeiras, como também as pessoas comuns, que eram não só analfabetas mas também aterrorizadas. Assim, a injustiça contra as bruxas continou por cerca de quatrocentos anos e estende-se, no presente, a Hollywood.

(continua)

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