terça-feira, março 28, 2006

Credo da Bruxa


Que eu seja como a que tece pano na floresta, profundamente escondida.
Que eu possa fazer o meu trabalho sem interrupção.
Que eu seja uma exilada, se este é o sacrifício.
Que eu conheça a procissão sazonada do meu espírito e do meu corpo e possa celebrar os quartos em cruz, soltícios e equinócios.
Que cada Lua Cheia me encontre a olhar para cima, nas árvores desenhadas no céu luminoso.
Que eu possa acariciar flores selvagens, cobrí-las com as mãos.
Que eu possa libertá-las, sem apanhar nenhuma, para viver em abundância.
Que meus amigos sejam da espécie que ama o silêncio.
Que sejamos inocentes e desprendidos.
Que eu seja capaz de gratidão.
Que eu saiba ter recebido alegria, como o leite materno.
Que eu saiba isso como o meu gato, no sangue e nos ossos.
Que eu fale a verdade sobre a alegria e a dor, em canções que soem como o aroma de alecrim, como todo o dia e na antigüidade, erva forte da cozinha.
Que eu não me incline a auto-integridade e a auto-piedade.
Que eu possa me aproximar dos altos trabalhos da terra e dos círculos de pedra, como raposa ou mariposa e não perturbar o lugar mais que isso.
Que meu olhar seja direto e minha mão firme.
Que minha porta se abra àqueles que habitam fora da riqueza, da fama e do privilégio.
Que os que jamais andaram descalços não encontrem o caminho que chega a minha porta.
Que se percam na jornada labirintica.
Que eles voltem.
Que eu me sente ao lado do fogo no inverno e veja as chamas brilhando para o que vier e nunca tenha necessidade de advertir ou aconselhar, sem que me peçam.
Que eu possa ter um simples banco de madeira, com verdadeiro regozijo.
Que o lugar onde eu habito seja como uma floresta.
Que haja caminhos e veredas para as cavernas e poços e árvores e flores,animais e pássaros, todos conhecidos e por mim reverenciados com amor.
Que minha existência mude o mundo não mais nem menos do que o soprar do vento, ou o orgulho do crescer das árvores.
Por isso, eu jogo fora a minha roupa.
Que eu possa conservar a fé, sempre!
Que jamais encontre desculpas para o oportunismo.
Que eu saiba que não tenho opção e assim mesmo escolha como a cantiga é feita,em alegria e em amor.
Que eu faça a mesma escolha todos os dias e de novo.
Quando falhar, que eu me conceda o perdão.
Que eu dance nua, sem medo de enfrentar meu próprio reflexo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Rute:

Parabéns pela iniciativa e pelo belo nome do blog!
Adoro os mitos gregos e a estória de Perséfone sempre me inspira, a descida dela ao inferno e a subida somente na primavera por alguns dias. Parece o resgate do inconsciente feminino, parece que ela foi buscar algo perdido para nós nas sombras.

Bjs amiga!

Kadica Krauthein