sábado, agosto 09, 2008

Caixa de Pandora

Caixa de Pandora

A Caixa de Pandora refere-se às emoções negativas. Reza a lenda que, quando a caixa foi aberta, todos os "males" fugiram para o mundo, restando no fundo apenas a esperança. Assim, a esperança tem alimentado a ilusão das grandes massas, enquanto os chamados "males" poderiam se tornar num portal para a transcendência. Explico melhor.

O que a humanidade tem chamado de "males"? Justamente as emoções negativas. Não costumo assistir televisão, mas ontem, em cinco minutos que observei uma novela, não deparei um só instante em que não houvesse uma crise emocional. Toda a sociedade investiu no sentimentalismo, quando poderia ter investido na sensibilidade. O sentimentalismo é formado por emoções baseadas na mais completa inconsciência, enquanto a sensibilidade baseia-se justamente no seu inverso, na consciência.

De novo, o que são os "males"? O que escapou realmente da caixa? Toda essa energia obscura que poderia ter sido usada justamente para o autoconhecimento e a auto-superação. O trato com o obscuro necessita da mais completa consciência e responsabilidade, sob pena de recair no maniqueísmo. O Satanismo, ao contrário, adota a ambivalência, que é o uso produtivo das polarizações e, daí, a unicidade.

Curiosamente, os "males" só são "males" no sentido maniqueísta do termo, a partir do momento em que se usam os "males" de modo producente já se tornaram "bens". A chave está na producência. O caráter ontológico dessas polaridades é sempre subjetivo e relativo.

Assim, uma tristeza imensa pode ser canalizada para algo imensamente criativo, ocorre em várias obras de arte. Do mesmo modo, a raiva é conhecida como uma energia poderosa, podendo ser direcionada para uma tarefa árdua com proveito. A preguiça pode proporcionar uma excelente meditação. Etc. Etc. Etc.

Destarte, a esperança deve realmente conhecer o seu lugar e permanecer guardada dentro da caixa. Descarte-se a esperança para abrigar o valioso elemento da dúvida, do questionamento, do empirismo pessoal, afim de que o ser humano rompa os seus próprios limites e reconquiste plenamente o seu ser.

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[As partes desta mensagem que não continham texto foram removidas]


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"Não se deve esquecer a seguinte regra: o inconsciente de uma pessoa se projeta sobre outra pessoa, isto é, aquilo que alguém não vê em si mesmo, passa a censurar no outro. Este princípio tem uma validade geral tão impressionante que seria bom se todos, antes de criticar os outros, se sentassem e ponderassem cuidadosamente se a carapuça que querem enfiar na cabeça do outro não é aquela que se ajusta perfeitamente a eles."

JUNG, Carl Gustav. Civilização em transição. Petrópolis: Vozes, 1993, cap. I, § 39, vol. X/3 das Obras Completas.

"The true person is
Not anyone in particular;
But, like the deep blue color
Of the limitless sky,
It is everyone, everywhere in the world."

Dogen 1200 to 1253


“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se
sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”.

Clarice Lispector

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